A menina que roubava livros
Markus Zusak
editora Intrínseca
480 páginas
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"Ao perceber que a pequena Liesel Meminger lhe escapa, a Morte se afeiçoa à menina e começa a seguir seus passos e narrar sua trajetória: desde o momento em que a mãe, perseguida pelo nazismo, tenta entregar Liesel e o irmão para adoção até o fim abrupto de sua convivência com essa família que recebera a menina de braços abertos. O irmão de Liesel morre no meio do caminho e, durante seu enterro, a menina rouba seu primeiro livro, um manual para coveiros. Já na casa dos pais adotivos, a menina é assombrada por pesadelos e a única coisa que a conforta é a convivência com o pai que, mais tarde, vai ajudá-la a aprender a ler e incentivá-la a conhecer novas palavras constantemente. Os roubos de livros vão se tornado mais frequentes e Liesel os lê ou no porão de sua casa ou na biblioteca da esposa do prefeito. Em meio ao culto a Hitler durante a Segunda Guerra, Liesel concilia o medo que paira sob todos com uma infância cheia de aventuras como deveria ser a de qualquer criança, sempre acompanhada por seus livros."
Nunca tinha dado muita bola pra esse livro, até assistir ao filme. Me apaixonei pela personagem principal e decidi que era hora de conhecer a estória completa. Eis que a leitura logo no início me surpreendeu: o livro é incrível! Desde a diagramação das páginas, passando pelas pequenas observações feitas pelo narrador entre um parágrafo e outro, até a linguagem quase poética usada pelo autor para falar de certos acontecimentos mais pesados, tudo ali é cativante.
A personagem Liesel, inicialmente, parece que vai ser uma menina triste e sofredora, mas logo se mostra apenas uma criança comum, apesar das grandes perdas que já sofrera, e, acima de tudo, uma pessoa determinada e sonhadora.
Ela rouba seu primeiro livro no enterro do irmão, quando o coveiro o deixa cair na neve. Mas o detalhe é que ela não sabe ler, e ainda assim se apaixona por aquele objeto misterioso. Quando o pai de criação, Hans, descobre o livro e percebe que ela não sabe ler, trata logo de ajudá-la a aprender, sem saber ele mesmo ler muito bem. A partir daí cria-se uma relação de cumplicidade e confiança entre os dois, que perdura por toda a narrativa.
O que, inicialmente, me afastou um pouco do livro foi ele ser ambientado durante a Segunda Guerra; esse assunto me entristece e eu realmente não gosto de ler nada sobre ele. Mas foi muito prazeroso descobrir que, apesar do tema ser tão pesado, o autor conseguiu dar leveza à estória, mesmo quando se referia a acontecimentos cruéis e absurdos, como Hans sendo chicoteado por um soldado por ter oferecido um pedaço de pão a um judeu faminto. A linguagem usada por Zusak para contar essa estória deixou tudo muito menos feio, menos denso, e a guerra, apesar de ser quase um personagem, fica meio que ao fundo enquanto tudo vai se desenrolando.
Um ponto importante do livro é a amizade que logo se instaura entre Liesel e seu vizinho de cabelos cor de limão, Rudy. Ele é um menino agitado, que gosta de esportes e que tenta por diversas vezes ganhar um beijo da amiga, mas ela sempre nega. Com certeza merece destaque a parte em que ele se pinta de preto para parecer Jesse Owens, seu ídolo, que ganhou 4 medalhas nas Olimpíadas de Berlim em 1936.
A trajetória como roubadora de livros de Liesel é muito interessante, e fica claro em cada um dos roubos que ela não o faz por maldade, mas por amor e desejo de ter as histórias sempre ao seu redor. Ela acaba conhecendo a biblioteca da casa do Prefeito da cidade e se encanta por aquele universo. Quando ela se vê impedida de entrar na casa pela porta da frente, começa a pular a janela e furtar os livros para ler em casa. Isso acaba se tornando um hábito e, nos momentos em que ela se sente triste, volta lá e rouba mais um exemplar da coleção pessoal da esposa do prefeito.
A Morte é a narradora da estória, e também é um personagem relevante, o que inicialmente pode causar certa surpresa, mas logo de início dá para perceber que ela não vai ser tão sinistra e que sua presença não vi deixar o clima mais fúnebre. Essa escolha do autor de colocar como narrador onisciente uma entidade que amedronta a todos foi muito ousada, mas ele soube usar com perspicácia o ponto de vista dela. Em algumas passagens do livro, a Morte se mostra menos atroz do que imaginamos, e capaz de sentir compaixão por algumas das almas que leva.
Claro que o livro tem momentos tristes, e não poderia deixar de ser assim, já que havia uma guerra em andamento. Apesar de algumas tragédias, há um clima de amor e fraternidade durante toda a narrativa. Acompanhar os acontecimentos desse evento tão triste da história mundial pelos olhos de uma criança inocente é bem interessante, e, por vezes, dá até para esquecer que Hitler estava no poder infligindo tanta maldade contra alguns seres humanos.
Uma dessas pessoas prejudicadas pelo Führer é Max, um judeu filho de um ex-companheiro de guerra de Hans, que busca abrigo em sua casa, e acaba vivendo por muito tempo escondido no porão da casa. Ele se torna um grande amigo de Liesel e, em certo momento, quando ele fica muito doente, a menina passa a roubar livros da casa do Prefeito para ler para Max, tentando tirá-lo do coma.
Os momentos vividos entre Liesel e Max são de ternura e delicadeza: impedido de sair do porão, ele pede à menina que diariamente lhe descreva o clima, e para tanto ela usa várias metáforas que transformam as previsões do tempo em verdadeiros poemas.
Apesar do final triste, o livro é todo lindo. A pequena Liesel conquista o leitor com sua meiguice e com sua devoção aos livros. Além de aprender a lê-los, ela também passa a escrever suas próprias estórias, e nós vamos com ela em toda essa trajetória de perdas e aprendizagem, que a torna uma pessoa boa e consciente de toda a maldade do mundo.
"A menina que roubava livros" com certeza vai entrar para os meus preferidos, e eu recomendo a todos. Além de ser apaixonante, ele também nos faz pensar no valor da vida e no respeito ao próximo.
Joana Masen
@joana_masen
Nunca tinha dado muita bola pra esse livro, até assistir ao filme. Me apaixonei pela personagem principal e decidi que era hora de conhecer a estória completa. Eis que a leitura logo no início me surpreendeu: o livro é incrível! Desde a diagramação das páginas, passando pelas pequenas observações feitas pelo narrador entre um parágrafo e outro, até a linguagem quase poética usada pelo autor para falar de certos acontecimentos mais pesados, tudo ali é cativante.
A personagem Liesel, inicialmente, parece que vai ser uma menina triste e sofredora, mas logo se mostra apenas uma criança comum, apesar das grandes perdas que já sofrera, e, acima de tudo, uma pessoa determinada e sonhadora.
Ela rouba seu primeiro livro no enterro do irmão, quando o coveiro o deixa cair na neve. Mas o detalhe é que ela não sabe ler, e ainda assim se apaixona por aquele objeto misterioso. Quando o pai de criação, Hans, descobre o livro e percebe que ela não sabe ler, trata logo de ajudá-la a aprender, sem saber ele mesmo ler muito bem. A partir daí cria-se uma relação de cumplicidade e confiança entre os dois, que perdura por toda a narrativa.
O que, inicialmente, me afastou um pouco do livro foi ele ser ambientado durante a Segunda Guerra; esse assunto me entristece e eu realmente não gosto de ler nada sobre ele. Mas foi muito prazeroso descobrir que, apesar do tema ser tão pesado, o autor conseguiu dar leveza à estória, mesmo quando se referia a acontecimentos cruéis e absurdos, como Hans sendo chicoteado por um soldado por ter oferecido um pedaço de pão a um judeu faminto. A linguagem usada por Zusak para contar essa estória deixou tudo muito menos feio, menos denso, e a guerra, apesar de ser quase um personagem, fica meio que ao fundo enquanto tudo vai se desenrolando.
Um ponto importante do livro é a amizade que logo se instaura entre Liesel e seu vizinho de cabelos cor de limão, Rudy. Ele é um menino agitado, que gosta de esportes e que tenta por diversas vezes ganhar um beijo da amiga, mas ela sempre nega. Com certeza merece destaque a parte em que ele se pinta de preto para parecer Jesse Owens, seu ídolo, que ganhou 4 medalhas nas Olimpíadas de Berlim em 1936.
A trajetória como roubadora de livros de Liesel é muito interessante, e fica claro em cada um dos roubos que ela não o faz por maldade, mas por amor e desejo de ter as histórias sempre ao seu redor. Ela acaba conhecendo a biblioteca da casa do Prefeito da cidade e se encanta por aquele universo. Quando ela se vê impedida de entrar na casa pela porta da frente, começa a pular a janela e furtar os livros para ler em casa. Isso acaba se tornando um hábito e, nos momentos em que ela se sente triste, volta lá e rouba mais um exemplar da coleção pessoal da esposa do prefeito.
A Morte é a narradora da estória, e também é um personagem relevante, o que inicialmente pode causar certa surpresa, mas logo de início dá para perceber que ela não vai ser tão sinistra e que sua presença não vi deixar o clima mais fúnebre. Essa escolha do autor de colocar como narrador onisciente uma entidade que amedronta a todos foi muito ousada, mas ele soube usar com perspicácia o ponto de vista dela. Em algumas passagens do livro, a Morte se mostra menos atroz do que imaginamos, e capaz de sentir compaixão por algumas das almas que leva.
Claro que o livro tem momentos tristes, e não poderia deixar de ser assim, já que havia uma guerra em andamento. Apesar de algumas tragédias, há um clima de amor e fraternidade durante toda a narrativa. Acompanhar os acontecimentos desse evento tão triste da história mundial pelos olhos de uma criança inocente é bem interessante, e, por vezes, dá até para esquecer que Hitler estava no poder infligindo tanta maldade contra alguns seres humanos.
Uma dessas pessoas prejudicadas pelo Führer é Max, um judeu filho de um ex-companheiro de guerra de Hans, que busca abrigo em sua casa, e acaba vivendo por muito tempo escondido no porão da casa. Ele se torna um grande amigo de Liesel e, em certo momento, quando ele fica muito doente, a menina passa a roubar livros da casa do Prefeito para ler para Max, tentando tirá-lo do coma.
Os momentos vividos entre Liesel e Max são de ternura e delicadeza: impedido de sair do porão, ele pede à menina que diariamente lhe descreva o clima, e para tanto ela usa várias metáforas que transformam as previsões do tempo em verdadeiros poemas.
Apesar do final triste, o livro é todo lindo. A pequena Liesel conquista o leitor com sua meiguice e com sua devoção aos livros. Além de aprender a lê-los, ela também passa a escrever suas próprias estórias, e nós vamos com ela em toda essa trajetória de perdas e aprendizagem, que a torna uma pessoa boa e consciente de toda a maldade do mundo.
"A menina que roubava livros" com certeza vai entrar para os meus preferidos, e eu recomendo a todos. Além de ser apaixonante, ele também nos faz pensar no valor da vida e no respeito ao próximo.
Joana Masen
@joana_masen