quinta-feira, 24 de abril de 2014

Joana leu: A menina que roubava livros, de Markus Zusak

Joana leu: A menina que roubava livros, de Markus Zusak
A menina que roubava livros
Markus Zusak
editora Intrínseca
480 páginas
"Ao perceber que a pequena Liesel Meminger lhe escapa, a Morte se afeiçoa à menina e começa a seguir seus passos e narrar sua trajetória: desde o momento em que a mãe, perseguida pelo nazismo, tenta entregar Liesel e o irmão para adoção até o fim abrupto de sua convivência com essa família que recebera a menina de braços abertos. O irmão de Liesel morre no meio do caminho e, durante seu enterro, a menina rouba seu primeiro livro, um manual para coveiros. Já na casa dos pais adotivos, a menina é assombrada por pesadelos e a única coisa que a conforta é a convivência com o pai que, mais tarde, vai ajudá-la a aprender a ler e incentivá-la a conhecer novas palavras constantemente. Os roubos de livros vão se tornado mais frequentes e Liesel os lê ou no porão de sua casa ou na biblioteca da esposa do prefeito. Em meio ao culto a Hitler durante a Segunda Guerra, Liesel concilia o medo que paira sob todos com uma infância cheia de aventuras como deveria ser a de qualquer criança, sempre acompanhada por seus livros."

Nunca tinha dado muita bola pra esse livro, até assistir ao filme. Me apaixonei pela personagem principal e decidi que era hora de conhecer a estória completa. Eis que a leitura logo no início me surpreendeu: o  livro é incrível! Desde a diagramação das páginas, passando pelas pequenas observações feitas pelo narrador entre um parágrafo e outro, até a linguagem quase poética usada pelo autor para falar de certos acontecimentos mais pesados, tudo ali é cativante.

A personagem Liesel, inicialmente, parece que vai ser uma menina triste e sofredora, mas logo se mostra apenas uma criança comum, apesar das grandes perdas que já sofrera, e, acima de tudo, uma pessoa determinada e sonhadora.

Ela rouba seu primeiro livro no enterro do irmão, quando o coveiro o deixa cair na neve. Mas o detalhe é que ela não sabe ler, e ainda assim se apaixona por aquele objeto misterioso. Quando o pai de criação, Hans, descobre o livro e percebe que ela não sabe ler, trata logo de ajudá-la a aprender, sem saber ele mesmo ler muito bem. A partir daí cria-se uma relação de cumplicidade e confiança entre os dois, que perdura por toda a narrativa.

O que, inicialmente, me afastou um pouco do livro foi ele ser ambientado durante a Segunda Guerra; esse assunto me entristece e eu realmente não gosto de ler nada sobre ele. Mas foi muito prazeroso descobrir que, apesar do tema ser tão pesado, o autor conseguiu dar leveza à estória, mesmo quando se referia a acontecimentos cruéis e absurdos, como Hans sendo chicoteado por um soldado por ter oferecido um pedaço de pão a um judeu faminto. A linguagem usada por Zusak para contar essa estória deixou tudo muito menos feio, menos denso, e a guerra, apesar de ser quase um personagem, fica meio que ao fundo enquanto tudo vai se desenrolando.

Um ponto importante do livro é a amizade que logo se instaura entre Liesel e seu vizinho de cabelos cor de limão, Rudy. Ele é um menino agitado, que gosta de esportes e que tenta por diversas vezes ganhar um beijo da amiga, mas ela sempre nega. Com certeza merece destaque a parte em que ele se pinta de preto para parecer Jesse Owens, seu ídolo, que ganhou 4 medalhas nas Olimpíadas de Berlim em 1936.

A trajetória como roubadora de livros de Liesel é muito interessante, e fica claro em cada um dos roubos que ela não o faz por maldade, mas por amor e desejo de ter as histórias sempre ao seu redor. Ela acaba conhecendo a biblioteca da casa do Prefeito da cidade e se encanta por aquele universo. Quando ela se vê impedida de entrar na casa pela porta da frente, começa a pular a janela e furtar os livros para ler em casa. Isso acaba se tornando um hábito e, nos momentos em que ela se sente triste, volta lá e rouba mais um exemplar da coleção pessoal da esposa do prefeito.

A Morte é a narradora da estória, e também é um personagem relevante, o que inicialmente pode causar certa surpresa, mas logo de início dá para perceber que ela não vai ser tão sinistra e que sua presença não vi deixar o clima mais fúnebre. Essa escolha do autor de colocar como narrador onisciente uma entidade que amedronta a todos foi muito ousada, mas ele soube usar com perspicácia o ponto de vista dela. Em algumas passagens do livro, a Morte se mostra menos atroz do que imaginamos, e capaz de sentir compaixão por algumas das almas que leva.

Claro que o livro tem momentos tristes, e não poderia deixar de ser assim, já que havia uma guerra em andamento. Apesar de algumas tragédias, há um clima de amor e fraternidade durante toda a narrativa. Acompanhar os acontecimentos desse evento tão triste da história mundial pelos olhos de uma criança inocente é bem interessante, e, por vezes, dá até para esquecer que Hitler estava no poder infligindo tanta maldade contra alguns seres humanos.

Uma dessas pessoas prejudicadas pelo Führer é Max, um judeu filho de um ex-companheiro de guerra de Hans, que busca abrigo em sua casa, e acaba vivendo por muito tempo escondido no porão da casa. Ele se torna um grande amigo de Liesel e, em certo momento, quando ele fica muito doente, a menina passa a roubar livros da casa do Prefeito para ler para Max, tentando tirá-lo do coma.

Os momentos vividos entre Liesel e Max são de ternura e delicadeza: impedido de sair do porão, ele pede à menina que diariamente lhe descreva o clima, e para tanto ela usa várias metáforas que transformam as previsões do tempo em verdadeiros poemas.

Apesar do final triste, o livro é todo lindo. A pequena Liesel conquista o leitor com sua meiguice e com sua devoção aos livros. Além de aprender a lê-los, ela também passa a escrever suas próprias estórias, e nós vamos com ela em toda essa trajetória de perdas e aprendizagem, que a torna uma pessoa boa e consciente de toda a maldade do mundo.

"A menina que roubava livros" com certeza vai entrar para os meus preferidos, e eu recomendo a todos. Além de ser apaixonante, ele também nos faz pensar no valor da vida e no respeito ao próximo.

Joana Masen
@joana_masen

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Isolda decide esperar.

Isolda decide esperar.
Estava com saudade de fotografar. A vida anda tão corrida e o tempo tão curto... 
Sábado a Renata veio e saímos, novamente para fotografar no meu bairro. Posso dizer com toda certeza que esse ensaio foi o mais rápido que já produzi e fotografei. Sabe aquele dia que todas as escolhas dão certo? Pois bem.  

O título do ensaio se refere à Tristão e Isolda, uma das minhas histórias de amor preferidas. Suspiro por essa lenda, li alguns livros maravilhosos à respeito ( odiei o filme, aliás ) e acho incrível como retrata o mito da alma-gêmea. 

É isso. Espero que gostem do resultado.

"(...)somos como madressilva quando se enrola à volta do ramo da aveleira: uma vez a ela ligada e presa, ambas podem durar juntas eternamente, mas, se as querem separar, a madessilva morre em pouco tempo e o mesmo sucede à aveleira. Tal é o nosso caso: nem vós sem mim, nem eu sem vós!"
( Tristão e Isolda - Lenda Medieval Celta de Amor )



Fotos: Helen Quintans
Modelo: Renata Cirigliano
Produção: Helen e Sandy Quintans

Helen Quintans
@helenquintans

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Joana leu: As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky

Joana leu: As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky
As vantagens de ser invisível
Stephen Chbosky
editora Rocco
224 páginas
"Ao mesmo tempo engraçado e atordoante, esse livro reúne as cartas de Charlie, um adolescente de quem pouco de sabe - a não ser pelo que ele conta nas correspondências -, que vive entre a apatia e o entusiasmo, tateando territórios inexplorados, encurralado entre o desejo de viver a própria vida e ao mesmo tempo fugir dela. Íntimas, hilariantes, às vezes devastadoras, as cartas mostram um jovem em confronto com a sua própria história, presente e futura, ora como um personagem invisível, à espreita por trás das cortinas, ora como protagonista que tem que assumir seu papel no palco da vida. Um jovem que não se sabe quem é ou onde mora, mas que poderia ser qualquer um, em qualquer lugar do mundo."

Já no início do livro o autor deixa claro que revelará pouco sobre a identidade do protagonista, Charlie, um adolescente que passa pela fase dos conflitos e das dúvidas pela qual todos os jovens passam, mas que é muito mais inocente do que os jovens realmente são. Ele escreve cartas, aparentemente num diário, para um amigo imaginário - ou não - onde ele conta tudo o que vive e o que pensa, desde os conflitos vividos no colégio, onde não tem muitos amigos, até o despertar da primeira paixão.

A narrativa se divide em dois núcleos distintos: o familiar, explorando a relação entre pais, filhos e irmãos, enquanto Charlie vai tentando aceitar a perda da tia que sempre o entendia e lhe dava livros para ler, e o escolar, que é onde Charlie faz seus primeiros amigos de verdade.

Enquanto em casa o menino alterna momentos de proximidade e distanciamento com os familiares, na escola ele rapidamente se apega aos irmãos Patrick e Sam; é com eles que Charlie explora e descobre um mundo que até então ele não conhecia, e por causa dessa proximidade, ele acaba se apaixonando por Sam que, além de já ter namorado, é um pouco mais velha que ele e o vê apenas como amigo.

O livro é permeado por pequenos dramas vividos pelos personagens, que têm características marcantes, como Patrick, que é homossexual e sofre com uma paixão proibida, ou Mary Elizabeth, a garota expansiva e descolada que curte e jazz e só procura alguém que a ouça de verdade.

Escrito inicialmente para o público juvenil, o livro também conquistou os leitores adultos com seu enredo dramático e ao mesmo tempo divertido. Em alguns momentos sentimos o sofrimento do jovem Charlie, tentando entender o funcionamento das coisas e das relações e de repente uma frase engraçada dá novo ritmo à situação. 

Mas o que mais me chamou a atenção foi o modo como Charlie enxerga as coisas. Na maior parte do tempo ele é extremamente inocente, quase alheio ao real significado das coisas que se passam ao seu redor. Alguns de seus comentários sobre acontecimentos com a irmã mostram que ele é mesmo muito ingênuo, como quando ela é agredida pelo namorado e ele acha que está tudo certo. Em mais de uma situação ele me lembrou muito o personagem Forrest Gump.

"- E seu livro favorito?
- Este lado do paraíso, do F. Scott Fitzgerald.
- Por quê?
- Porque foi o último que eu li.
Isso fez eles rirem, porque sabiam que eu estava sendo sincero, não estava me exibindo. Depois eles me contaram quais eram os favoritos deles e eu fiquei sentado em silêncio. Comi torta de abóbora porque a moça disse que estava na estação e Patrick e Sam fumaram mais cigarros."

O foco da estória é a vontade que Charlie tem de ser notado, de ser importante. Não importante no sentido de famoso, mas apenas importante na vida de alguém, uma pessoa notada, que seja incluída num grupo naturalmente. Apesar de sua ingenuidade, ele consegue aos poucos ir conquistando seu lugar na família e no círculo de amigos, e percebe que sua existência tem significado afinal.

Uma coisa que vale a pena comentar é a relação de Charlie com um de seus professores, que está sempre lhe emprestando livros para que ele leia em casa e depois escreva suas impressões sobre ele. A inserção desse livros na estória é muito discreta, mas faz todo o sentido, pois o autor os usa como metáforas para explicar os sentimentos de Charlie.

Gostei do livro sim, mas pela expectativa criada antes de lê-lo, ao final fiquei esperando que houvesse algo mais. A estória é profunda, os personagens são carismáticos e envolventes e a inocência de Charlie ora nos faz amá-lo, querer zelar por ele, ora nos faz temer por sua segurança e sanidade mental. Enfim, é um livro que analisa o comportamento adolescente sem ser piegas, e nos apresenta um personagem carente e cheio de dúvidas como qualquer um de nós.

Joana Masen
@joana_masen

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A revolução de Laurence Anyways

A revolução de Laurence Anyways
O Tumblr costuma ser o meu mapa do tesouro. É lá que eu descubro boa parte das coisas legais do universo. Músicas, atores, tendências de comportamento e de moda, e claro, filmes. E eu amo esse universo de descobertas. Num dia desses dei de cara com vários gifs de um filme de 2012, fiquei extasiada com aquelas imagens e tive de descobrir qual era. E assim comecei a mergulhar na história e estética de Laurence Anyways

Laurence Alia é um professor que vive um romance intenso com a explosiva Fred Belair. O início do filme se compromete a retratar a relação dos dois para nos preparar para o que vem a seguir. Um dia Laurence decide contar a Fred que ele não se identifica com o gênero masculino e que ele não quer mais ser homem. E aí que começa a metamorfose do romântico professor e escritor que ama Fred perdidamente.

Mais importante que a narrativa do filme, é a estética criada pelo diretor prodígio Xavier Dolan, que já havia se tornado queridinho da crítica europeia por Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários. Em algumas cenas, ele nos faz mergulhar na revolução criada por Laurence. Também não poderia deixar de falar sobre o figurino do longa, que traz referências marcantes das décadas de 70 e 80.

Laurence Anyways me fez pensar  sobre as coisas das quais abrimos mão em busca do que queremos. Me fez pensar sobre diferenças, igualdades e revoluções. Me fez pensar, principalmente, sobre a arte de amar e nem sempre ser correspondido.

Sandy Quintans
@sandyquintans

sábado, 5 de abril de 2014

Resumo do mês: Março

Resumo do mês: Março
Seria redundante dizer que estamos completamente sem tempo? Sim e estamos sem tempo. Por isso, já pedimos desculpas pela falta de posts e pela demora do nosso resumo do mês. Definitivamente não queremos abandonar essa coluna :)

O Março da Helen 
Março passou voando, como todos os meses do ano fazem na minha vida. Foi um período produtivo, cansativo, cheio de boas surpresas ( e algumas bem ruins ). Trabalhei pra caramba, me diverti na faculdade, desenhei, li bastante. Acho que aproveitei bem.

O Março da Sandy
Março é aquele mês do ano que sempre me aparece muitas surpresas. Algumas boas, muitas ruins e esse ano não poderia ser diferente. Foi mês pra sentir cansaço, pra sentir saudade, pra estudar bastante e trabalhar mais ainda. Mas também foi mês de mudanças (de emprego, de rotina, de colegas), também pra matar saudades e pra chegar o outono. Balanço do mês: bom.

Pronto, usei!
@prontousei
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