quinta-feira, 31 de março de 2016

Joana leu: Nunca jamais, Colleen Hoover

Joana leu: Nunca jamais, Colleen Hoover
"Charlie Wynwood e Silas Nash são melhores amigos desde pequenos. Mas, agora, são completos estranhos. O primeiro beijo, a primeira briga, o momento em que se apaixonaram... Toda recordação desapareceu. E nenhum dos dois tem ideia do que aconteceu e em quem podem confiar. Charlie e Silas precisam trabalhar juntos para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com eles e o porquê. Mas, quanto mais eles aprendem sobre quem eram, mais questionam o motivo pelo qual se juntaram no passado."




Tem coisa mais emocionante do que um livro da Colleen? Acho que não! Mesmo escrevendo em parceria com outra autora, Tarryn Fischer, dá para reconhecer seu toque na narrativa, e seu estilo de escrita apaixonante/dramático.

Essa estória começa com um mistério: de repente, sem saber de onde veio ou quem é, Charlie 'acorda' no meio do colégio, com uma garota estranha à sua frente. Ela não se lembra de nada, nem mesmo de seu próprio nome, e vai tentando disfarçar sua desorientação em meio aos outros alunos e aulas onde o professor parece odiá-la, sem ela nem ao menos imaginar o motivo.

De outro lado encontramos Silas, que está vivendo a mesma situação, e que faz de seu encontro com Charlie uma razão para tentar descobrir o que está acontecendo com eles. O mais estranho é que eles conseguem lembrar de coisas aleatórias como quem canta alguma música ou informações sobre algum filme qualquer. Isso torna tudo ainda mais misterioso: como é possível duas pessoas, ao mesmo tempo, perderem a maior parte de sua memória?

Aos poucos eles vão juntando pequenas informações que vão lhes mostrando quem eles eram, e que tipo de vida levavam. Logo de cara eles descobrem que eram namorados há muito tempo, e que suas famílias eram amigas, mas agora, por algum motivo que eles ainda desconhecem, se tornaram inimigas mortais.

Silas é um fofo: o tempo todo tentando diminuir a tensão da situação em que se encontram, o que vai irritando Charlie cada vez mais, já que tudo o que ela quer é descobrir quem é aquela Charlie de ontem, uma pessoa que parece ser tão diferente dela. 

Como não poderia faltar num livro da Colleen, aqui também tem romance, mas ele se dá de forma muito delicada, aos poucos, como se pudesse se quebrar a qualquer momento. Também pudera, ao mesmo tempo em que Silas sente que pode se apaixonar facilmente por Charlie, ele percebe que ela luta contra esse sentimento, e aposta que vai conseguir conquistá-la novamente. Cada mínimo detalhe que eles descobrem sobre o relacionamento do qual eles não se lembram é delicado, e alguns deles podem arrancar suspiros da leitora mais emotiva.

A única razão que me fez não dar nota 5 de 5 para esse livro foi o final, e não foi por ser ruim, mas por ser tão repentino e surpreendente que me deixou revoltada. Eu já sabia que a estória não se fecharia nesse livro, já que é parte de uma trilogia, mas não estava preparada para as duas últimas páginas e, principalmente, para os últimos parágrafos desse primeiro volume. É cruel e ao mesmo tempo brilhante, deixando tudo em aberto, no momento mais crítico da amnésia dos personagens. Não posso falar mais para não dar spoiler, então, leiam e entendam o meu sofrimento. E juntem-se a mim na campanha pela publicação do segundo livro, pra ontem.


Nunca jamais
Colleen Hoover e Tarryn Fischer
editora Galera Record
192 páginas
Joana Masen
@joana_masen

segunda-feira, 28 de março de 2016

Cinematura - Meio Sol Amarelo

Cinematura - Meio Sol Amarelo
A Chimamanda Ngozi Adichie é uma dessas autoras que transforma nossas vidas com palavras. Quando li Americanah, por mera curiosidade, terminei achando que minha cabeça fosse explodir com aquele romance. Era fantástico descobrir coisas sobre o feminismo - que nunca tinham me ocorrido, mesmo vivenciando todos os dias - , ou as semelhanças entre o Brasil e a Nigéria. É curioso pensar que nossa cultura é extremamente ligada com a África, mas só ficamos exaltando nossas influências europeias, né? Essas foram algumas das coisas que aprendi com ela.


Foi assim que não pensei duas vezes antes de ler Meio Sol Amarelo, que fala sobre um período muito importante na história da Nigéria, uma guerra civil. Na década de 1960, o país se dividiu em dois, em que foi criado a estado independente de Biafra. Pra contar essa história, a Chimamanda relata com três pontos de vista, do Ugwu, da Olanna e do Richard. 

Ugwu é o primeiro personagem que conhecemos no livro, que é o empregado da casa de Odenigbo, namorado de Olanna. Ele é um menino pobre, que com a convivência com os intelectuais da cidade de Nsukka e por incentivo do patrão, começa aprender a ler e escrever. Logo, ele se torna parte daquele ambiente, bem diferente da realidade em que vivia com  família em um vilarejo pobre. 


Apesar de só descobrirmos depois, Olanna é a personagem principal do livro. Ela é filha de uma das famílias mais ricas da Nigéria, foi educada na Inglaterra, mas prefere abdicar de todo o conforto do seu estilo de vida e se muda de Lagos para Nsukka pra viver com seu grande amor, Odenigbo, e lecionar na Universidade. Olanna é muito bonita e é considerada a preferida entre ela e sua irmã gêmea, Kainene, que possui o dom de tocar os negócios da família. 

Já o Richard, é um inglês fascinado com a cultura africana, que se muda para Lagos para escrever um romance. Assim, ele conhece Kainene, por quem se apaixona perdidamente. Assim, ele fica cada dia mais envolvido com a cultura, aprende seus idiomas e ama o lugar como nunca teria amado a Inglaterra. 


As diferenças entre os personagens que narram a história é extremamente importante pra obra, por ter um retrato incrível das transformações que a guerra faz com essas pessoas. Você termina o livro acreditando que aquelas pessoas são reais, apesar de ser uma história de ficção baseado em um conflito real. 

Justamente por ser um romance tão completo e complexo, o filme não consegue atingir a grandeza da história. É um filme interessante, mas que não dá pra comparar com a versão original. Por ser uma obra construída em detalhes, a versão para o cinema acaba ficando um pouco rasa, o que era de se esperar.



A verdade é que poderia passar horas falando sobre a grandeza de Meio Sol Amarelo, mas nunca conseguiria descrevê-lo apropriadamente. É algo que quando você termina de ler, parece ter passado eras desde o começo da história, de tanta informação e de tão completa que são as obras da Chimamanda.

Sandy Quintans
@sandyquintans

Cinematura é a coluna que falo sobre livros que viraram filmes. Há vezes que amo mais a história escrita e outras que acho que a versão pro cinema ficou melhor. Mas uma coisa sempre é certa: eu adoro conhecer duas versões de uma mesma história. Para ver outras edições, só clicar aqui

quinta-feira, 24 de março de 2016

6 coisas que aprendi com The O.C.

6 coisas que aprendi com The O.C.
Quando estava com meus 13 para 14 anos, o SBT era a emissora que passava as séries mais legais. Naquele tempo a maioria das pessoas ainda não tinha acesso a TV a cabo, então era assim que conhecíamos o que o resto do mundo estava vendo, como Smallville, Everwood, Família Soprano, e por aí vai. É dessa época que conheci duas das minhas séries preferidas de todos os tempos: The O.C e Gilmore Girls. 


A verdade é que GG eu demorei um tempo pra pegar todas as temporadas e assistir apropriadamente, pois os episódios passavam totalmente picados. Mas The O.C foi uma série que mudou a minha adolescência, coisa que só fui perceber depois de adulta. 

Eu confesso, se começasse a assistir hoje em dia, é provável que achasse um porre. Só que especialmente na fase que estava vivendo, é o que fez toda a diferença, e foi como comecei a perceber que não ser todo mundo poderia ser muito legal também. Por isso, listo seis coisas preciosas que aprendi com a série que retrata a sociedade de Orange County, na Califórnia: 

1. Um tal de indie

Lembra que eu falei que a série mudou a minha adolescência? Foi por causa da música. Estávamos vivendo em uma época que não tínhamos downloads e conhecer bandas novas era uma tarefa árdua, que quase nenhum de nós enfrentávamos. Quando uma série de TV adolescente te entrega toda aquela maravilha que foi o início da fase indie, aquilo transforma a vida.


Ali nós encontrávamos coisas como Oasis, Rooney, Coldplay da fase boa, The Killers, Keane, Super Furry Animals, e claro, Death Cab For Cutie. Poderia ficar horas listando todas as bandas que entraram na nossa vida por causa de The O.C., mas aconselho a ouvir a playlist abaixo:


2. Os tímidos são muito mais interessantes

Também foi ali que percebi que ser tímido, na verdade, poderia ser um triunfo. Eu fui uma daquelas pessoas que tinha tanta vergonha de qualquer coisa, que pedir pão na padaria era um problema. Mas a sorte é que descobri que Seth Cohen, um tímido declarado que era o melhor personagem da série e crush de metade das adolescentes que assistia a série. Foi assim que percebi que tudo bem, todos nós podemos ser interessantes.


3. Nós podemos nos permitir 

Uma das maiores lições da série é aprender a se permitir. O tal "estranho no paraíso" que o SBT incluiu no título pro Brasil se referia a Ryan, um adolescente problema que aparece em Orange County e é adotado pela família de Seth. Apesar de Ryan ter passado por muitos problemas, ele mostra pra todo mundo que ele tem um coração enorme e que só precisava de uma família e todo o amor que ela pode proporcionar ♥


4. Dinheiro definitivamente não é tudo

Apesar da série ser em Orange County, ela retrata aquela sociedade como uma forma de crítica. Logo no início da história, a gente percebe que todo aquele glamour é só indício de que existe algo de muito podre no reino da Dinamarca. Definitivamente, dinheiro não é tudo.



5. Sonhos podem ser tornar reais 

Seth, aquele garoto tímido, zoado pelos colegas por ser esquisito e que só consegue fazer amigos quando Ryan é adotado pela família, alimenta um grande sonho: namorar a Summer. Em outro planeta, ela definitivamente nem olharia pra ele, mas eles se tornam o melhor casal da série. Nós já shippávamos eles, sem nem saber o que isso significava. Sem dúvida, uma das melhores partes da série.


6. Seth Cohen pode ter atrapalhado meus relacionamentos na adolescência

É claro que isso é uma zueira. Mas ter como parâmetro um cara interessante e mala como o Seth Cohen na minha série preferida, fez com que elevasse meu padrão de meninos que me interessava. É por isso também que grande parte dos meus relacionamentos foram platônicos. Na vida real não dava pra encontrar caras que gostavam de bandas interessantes e quadrinhos, a coisa era mais ligada a futebol, algo totalmente contrário à filosofia Seth Cohen de ser.



E pra você, quais foram as melhores coisas de The O.C? 

Sandy Quintans
@sandyquintans

quarta-feira, 23 de março de 2016

A exibição de O Entalhe do Sertão - A Arte de J. Borges no Projeto Na Corda do Cordel

A exibição de O Entalhe do Sertão - A Arte de J. Borges no Projeto Na Corda do Cordel
Lá em 2013 estávamos noticiando todas as coisas incríveis que estava rolando no De Repente é Cordel, um evento idealizado por Samuel Quintans e realizado pelo Sesc Campinas. Foi um mês de cultura nordestina nas suas mais variadas formas, que aliás foi um verdadeiro sucesso. Foi tão bem recebido que o Sesc decidiu fazer uma segunda edição, desta vez, o evento é na Corda do Cordel. É muito bom ter mais um mês de resgate da cultura que faz parte da nossa família.

Outra coisa legal dessa segunda edição lá no Sesc, é que não seremos apenas expectadoras de todas as apresentações, como também iremos fazer parte de uma delas! Ou melhor, eu não, a Helen. Amanhã (24) ela irá apresentar o curta documentário O Entalhe do Sertão - A Arte de J. Borges, que falas sobre o melhor xilógrafo do mundo , J. Borges. Ele foi uma das atrações do evento, mas também será novamente um dos homenageados.


Pra quem não se lembra, o curta documentário foi feito pela Helen em 2014, que conseguiu ir até Pernambuco conhecer o J. Borges. Além de trazer a história dele, também contava sobre a técnica de xilogravura. Por isso, convido todo mundo pra ver o O Entalhe do Sertão - A Arte de J. Borges que será exibido no Na Corda do Cordel e participar de uma bate-papo especial pra falar sobre o documentário da Helen. E pra quem já conhece, a versão será estendida. Esperamos vocês ♥



Serviço

O quê? O Entalhe do Sertão - A Arte de J. Borges +  Bate Papo
Onde? Sesc Campinas
Quando? Quinta-feira, 24/03, às 19h30
Por quê? Porque é muito amor ♥

Sandy Quintans
@sandyquintans

quinta-feira, 3 de março de 2016

Joana leu: Ovelha, memórias de um pastor gay, Gustavo Magnani

Joana leu: Ovelha, memórias de um pastor gay, Gustavo Magnani
"Este livro, estreia impressionante de um jovem talentoso escritor, é o relato pecaminoso de um decadente. A história de um homem religioso e carismático, temente a Deus, mas amante insaciável de sua própria carne exótica, a carne de outros homens. Um pastor gay, casado com uma ex-prostituta, filho de uma fanática religiosa. Neurótico e depravado. E agora condenado. Internado no hospital, debilitado e com um segredo de uma tonelada nas costas, este personagem atormentado decide libertar-se de seus demônios e relatar seu drama. Num relato cru e sem censura, ele literalmente vomita seus trinta anos de calvário e charlatanice na cara da congregação (e de qualquer um que se interesse por um bom inferno). Sexo, paranoia, corrupção e destruição são os ingredientes tóxicos dessa obra provocante, polêmica e inovadora."




Esse livro pode ser chocante para algumas pessoas. Mas também pode ser visto por alguns leitores como uma narrativa ousada, mas que não assusta. Claro que o assunto é polêmico: um pastor evangélico que se descobre gay e que narra suas desventuras em busca da satisfação pessoal e a dúvida sobre se o que faz é certo ou errado. Só isso já daria uma boa discussão, mas o autor vai além, e conta em detalhes algumas das situações mais intensas vividas por seu personagem.

O protagonista escancara todos os seus sentimentos mais íntimos, enquanto questiona o posicionamento da igreja frente a natureza humana, ao ser diferente e tentar ser aceito sem transgredir suas regras. O próprio autor em algumas entrevistas revelou que passou um longo período de sua vida dentro da igreja, bastante atuante, até que começou a perceber que, em alguns casos, a única coisa que importava para a instituição igreja era que o fiel seguisse suas ordens, agisse sob seus termos, e anulasse sua verdadeira identidade para viver de acordo com o que a igreja prega. Foi que ele passou a questionar se isso era certo.

É possível identificar no personagem essa insatisfação com a igreja, e uma tentativa de alinhar aquilo que ele acredita, ou seja, sua fé em Deus, com aquilo que ele precisa fazer, que é assumir seus desejos mais primitivos, e só assim ser totalmente feliz. Esse medo de estar vivendo em pecado enquanto sente que está se satisfazendo plenamente martiriza o pastor o tempo todo, e faz com que ele questione suas próprias escolhas. Mas também não o impede de buscar o prazer a qualquer preço.

Mas certamente o que vai chocar o leitor são os detalhes mínimos da vida sexual do pastor: desde o descobrimento da sua homossexualidade até a primeira vez que ele tem uma relação com outro homem. Ele também fala sobre as dificuldades em manter um relacionamento com a esposa, sem que ela perceba que ele é gay. Com ela o pastor teve filhos e passou alguns anos tentando viver como manda a sociedade, mas como não conseguia fugir de sua natureza homossexual, ele mantinha casos extraconjugais.

O ponto forte do livro é sem dúvida o estilo narrativo adotado pelo autor: ele escreve no estilo diário, fazendo registros sem uma linha temporal definida, ou seja, hora ele usa o tempo presente, falando sobre como está o pastor naquele exato momento em que escreve suas memórias, sentindo que seus dias estão chegando ao fim, hora ele afla no passado, contando coisas que já aconteceram, desde a sua infância até agora. Intercalando os tempos, aparentemente sem critério algum, o autor conseguiu construir sua própria linha temporal, amarrando  um capítulo no outro, de forma que eles façam sentido entre si e que a estória vá se desenvolvendo até o que seria o fim da linha para o pastor.

Por ser um livro de estreia, ele merece respeito. A narrativa é inteligente e dá para perceber que o autor teve grande cuidado ao conceber essa obra. A polêmica maior fica por conta de quem segue uma religião e pode discordar das atitudes do pastor, o que não é o meu caso. Talvez por isso eu tenha conseguido enxergar a estória com o olhar de um leitor, e não de um membro atuante desse ou daquele seguimento religioso. Cada leitor vai perceber a estória de uma perspectiva própria, e por isso é recomendado que todos o leiam, independente da sua crença, e que tenham a mente aberta, sabendo que se trata de uma obra literária.





Ovelha, memórias de um pastor gay
Gustavo Magnani
editora Geração Editorial
232 páginas
Joana Masen
@joana_masen

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