sábado, 2 de abril de 2016

O mundo sem ninguém.

Eu sou a última sobrevivente. Além de mim, só existe o vazio. Eu sou o vazio.


Eu poderia ser livre, mas não existe nenhuma prisão. Não existe ninguém para que eu possa odiar, ninguém para que eu possa amar.


Eu sou apenas uma lembrança. A poeira daquilo que um dia existiu.  Meu único inimigo é o meu coração e nenhuma arma vai me proteger. A natureza devorou a saudade. 



Não existe mais tempo, eu sou passado, presente e futuro. Nada se move.



Não existe pecado ou perdão. O sofrimento se tornou inútil e a alegria, irreal.



Não existe poesia quando a métrica é a repetição infinita.



Eu sou apenas uma fração de segundo, mas a minha respiração parece eterna.



A eternidade é luz e sombra.



A beleza é inútil.



Eu sou a última sobrevivente. Além de mim, só existe o vazio. Eu sou o vazio. 



Fotos: Helen Quintans
Texto: Flávio Carnielli
Modelo: Renata Cirigliano

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