Cidades de Papel John Green editora Intrínseca 361 páginas |
"Quentin nutre uma paixão
platônica pela vizinha e colega de escola Margo Roth Spielgelman desde a
infância. Naquela época eles brincavam juntos e andavam de bicicleta
pelo bairro, mas hoje ela é uma garota linda e popular na escola
enquanto ele é só mais um dos nerds de sua turma. Certa noite, Margo
invade a casa de Quentin pela janela de seu quarto, com a cara pintada e
vestida de ninja, convocando-o a fazer parte de um engenhoso plano de
vingança. E ele, é claro, aceita. Assim que a noite de aventuras acaba e
um novo dia se inicia, Q vai para a escola, esperançoso de que tudo
mude e Margo decida se aproximar dele. No entanto, ela não aparece
naquele dia, nem no outro, nem no seguinte. Quando descobre que o
paradeiro dela é um mistério, Quentin encontra pistas deixadas pela
garota e começa a segui-las, numa busca que lhe proporciona tanto se
descobrir quanto conhecer a verdadeira Margo, bem diferente daquele que
ele idealizou a vida toda."
Quentin
é um nerd típico, que tem um grupo de amigos diminuto e que prefere
passar seus dias jogando video game a participar da cerimônia de
formatura do colégio. Seus pais são psicólogos e, como diz o ditado, em
casa de ferreiro o espeto é de pau, ou seja, eles acreditam que sabem exatamente o que se passa na cabeça do filho, mas ele não
pensa assim. Enquanto os outros jovens da sua idade já têm seus carros,
Quentin compartilha com sua mãe o uso de uma minivan. E ele é
apaixonado, desde pequeno, por sua vizinha Margo Roth Spielgelman. Eles
eram muito amigos quando crianças, mas depois de encontrarem um homem
morto no meio do parque que costumavam frequentar, ela nunca mais falou
com ele, apesar de ainda estudarem na mesma escola.
Numa
noite como outra qualquer, Q está em seu quarto e Margo aparece na
janela, toda vestida de preto, com o rosto pintado na mesma cor, dizendo
que precisa da ajuda dele para executar um plano. Ela quer que ele
pegue o carro da mãe e saia com ela noite afora para se vingar de
algumas pessoas que se diziam suas amigas, pregando algumas peças neles.
Durante
essa noite, Quentin vê sua paixão por ela aumentar, mas não consegue se
declarar nem tentar nada, com medo de ser repelido. Ele sente que estão
voltando a ser próximos como antes, e se enche de esperanças para o dia
seguinte, acreditando que, depois de passarem a noite toda rodando de
um lado para outro de carro e se divertindo com as armações de Margo, a
menina vai tratá-lo como amigo quando se encontrarem na escola e que
voltarão a ser como na infância. Então, para surpresa de Quentin, ela não
aparece no colégio.
Ele continua esperando pelo
encontro com Margo, mas ela some durante vários dias, deixando seus pais
muito nervosos. Como não era a primeira vez que a menina sumia de casa
repentinamente, os amigos achavam que era apenas mais uma de suas
viagens malucas e que logo ela voltaria cheia de histórias para contar, como sempre fazia.
Os dias vão se passando e Margo não aparece nem dá notícias. Quentin
começa a ficar preocupado e, numa conversa com os pais da amiga, ele
descobre que ela costuma deixar algumas pistas estranhas quando
desaparece, com dicas enigmáticas do lugar onde ela está.
A
partir daí Quentin começa a procurar por possíveis pistas deixadas por
Margo para tentar localizar seu paradeiro e trazê-la de volta para casa,
para que a vida deles seja como antes. Ele vai juntando pequenas peças e
desvendando enigmas que parecem ter sido pensados especialmente para
ele, como se Margo esperasse que ele a encontrasse.
Quanto
mais perto a formatura vai ficando, mais seus amigos direcionam sua
atenção para a festa e vão deixando Q sozinho com o desaparecimento de Margo e suas pistas misteriosas, mas ele não
desiste até que um dia ele consegue entender o que Margo quis dizer
quando falou, na noite em que saíram juntos, sobre as pessoas serem
apenas pessoas de papel, vivendo numa cidade de papel, e assim ele
consegue direcionar seus esforços para buscar o esconderijo da amiga.
A expectativa por um livro de John Green é sempre boa, e até agora ele tem correspondido. Aqui em "Cidades de Papel"
ele usa o desaparecimento da personagem Margo Roth Spielgelman (o nome
dela é quase sempre dito assim por Quentin, inteiro) para expor sua verdadeira
personalidade, aquela que a garota em geral não mostra para as pessoas a
seu redor, talvez por medo de não ser aceita, e vai fazendo isso aos
poucos, conforme Q encontra as pistas deixadas por ela, que também vão
servindo para o próprio Quentin se descobrir.
O foco
principal desse livro é o autoconhecimento, o entendimento que o
personagem Quentin vai formando ao longo da narrativa, e as descobertas
que ele faz de si mesmo. Ao mesmo tempo em que vai encontrando forças
que ele nem sabia possuir, ele vence seus próprios medos apenas para
tentar ver mais uma vez a garota que gosta. Ele sabe que vai precisar de
muita coragem para encontrar Margo, que a certa altura ele já acredita
estar morta, e isso o faz sofrer muito. Mas esse sofrimento dá combustível
para que ele se esforce ainda mais na resolução dos mistérios deixados
por ela.
Como nos outros livros de John, aqui os
personagens são bem construídos e têm uma psique forte: Quentin e Margo
mostram defeitos e qualidades típicos de pessoas da sua idade e com
pensamentos próprios de adolescentes que passam por tantas mudanças. Os
personagens secundários também têm participação importante na construção
da narrativa, e esse é outro traço marcante nas obra do autor, que
sempre cria pelo menos um amigo para o protagonista, lhe dando base para
desenvolver bons diálogos e situações que refletem o cotidiano dos
leitores. Não faltam momentos engraçados e situações cômicas entre os
amigos enquanto tentam localizar Margo.
Eu sou fã de
John Green e posso ser suspeita para falar, ainda assim, recomendo muito
o livro, que, apesar de ter como pano de fundo um pequeno drama
adolescente, mais uma vez ele consegue nos fazer refletir sobre como conduzimos nossa vida, sobre autoconhecimento e determinação para conquistar o que queremos. Com uma escrita bem simples, John consegue deixar
quase poética a mensagem que quer passar: viva, siga seus instintos,
realize seus sonhos e não perca tempo com aparências ou se preocupando
com o que outras pessoas podem pensar de você. Assim como Quentin e
Margo, podemos encontrar vários obstáculos na vida, mas mesmo cheia de
dificuldades, ela é mais simples do que imaginamos.
Joana Masen
@joana_masen