quinta-feira, 7 de maio de 2015

Joana leu: Invisível, de David Levithan e Andrea Cremer

Invisível
David Levithan e Andrea Cremer
Galera Record
322 páginas
"Stephen passou a vida do lado de fora, olhando para dentro. Amaldiçoado desde o nascimento, ele é invisível. Não apenas para si mesmo, mas para todos. Não sabe como é seu próprio rosto. Ele vaga por Nova Iorque, em um esforço contínuo para não desaparecer completamente. Mas um milagre acontece, e ele se chama Elizabeth: recém chegada à cidade, a garota procura exatamente o que Stephen mais odeia, a possibilidade de passar despercebida, depois de sofrer com a rejeição dos amigos à opção sexual do irmão. Perdida em pensamentos, Elizabeth não entende por que seu vizinho de apartamento não mexe um dedo quando ela derruba um sacola de compras no chão. E Stephen não acredita no que está acontecendo... ela o vê!"

Quando li a sinopse desse livro pensei: "oba, uma estória bem diferente!". Ela é realmente diferente, tanto que tomou rumos totalmente inesperados durante a leitura. Imaginem passar a vida inteira sendo invisível para todos, inclusive para sua própria mãe. Pois é assim o protagonista do livro, Stephen, que nunca foi visto por ninguém, nem por si mesmo, já que nem o espelho reflete sua imagem. Mas como a mãe dele sabe que ele existe? Ao nascer ele podia ser sentido quando tocado, mas depois que cresceu, nem isso. A única coisa que comprova sua existência é sua voz.

Então Stephen cresceu num apartamento convivendo apenas com a mãe, até que ela morreu e ele ficou totalmente sozinho para se adaptar ao mundo dada a sua condição. No começo ele pensou que não ia conseguir viver, mas aos poucos foi aprendendo a lidar com sua não-existência para o mundo. Ele criou uma rotina que envolvia passar muito tempo dentro do apartamento ou caminhar pelo parque e observar as pessoas. Para comer, ele pedia tudo pelo telefone, e o pai, que se separou da mãe quando ele era muito pequeno, pagava suas contas e nunca aparecia para saber como ele estava.



Mas tudo isso um dia mudou, quando ele viu a nova moradora do apartamento vizinho ao seu derrubar suas sacolas de compras no chão e olhar fixamente para ele, perguntado se ele não ia ajudá-la. Stephen ficou chocado ao perceber que a menina podia vê-lo, e tentou não demonstrar sua surpresa, fazendo um esforço incrível para recolher algumas coisas do chão. Acontece que para fazer seu corpo se materializar e tocar em algo, ele precisava se concentrar muito.

Sendo Elizabeth a única pessoa que o via, Stephen não conseguiu mais se afastar dela, e num primeiro momento ele tentou esconder sua maldição, mas algumas circunstâncias o obrigaram a contar a ela que ele era invisível para o mundo. E é a partir daí que a coisa complica.

Stephen foi amaldiçoado pelo avô antes mesmo de nascer, e por isso não pode ser visto. Elizabeth descobre que é uma rastreadora, um tipo de ser mágico que combate os conjuradores, pessoas como o avô de Stephen que estão no mundo para amaldiçoar pessoas aleatoriamente ou de acordo com sua vontade. Mas ela tem que estudar para aprender a lidar com seu poder, e acaba encontrando uma rastreadora muito velha, que promete lhe ensinar tudo o que sabe para tentar ajudar Stephen.

Em meio a essa confusão existe o romance entre Stephen e Elizabeth, que é muito fofo, e o relacionamento dela com o irmão gay, que é o alívio cômico da estória. As suas frases de efeito e seu raciocínio rápido proporcionam ao leitor os momentos mais divertidos do livro, o que compensa a tensão que envolve toda a situação de Stephen.

Quando disse que a estória tomou rumos inesperados, não quis dizer que isso foi ruim; eu imaginava que o foco seria na invisibilidade de Stephen, seu namoro com Elizabeth e a dedicação deles em tentar encontrar uma solução para o problema. Mas além disso, os autores criaram um embate entre o maligno avô de Stephen e o casal, que em alguns momentos era bastante cruel, envolvendo pessoas inocentes que não tinham nada a ver com aquela história. Por exemplo, o conjurador lança, do nada, várias maldições nas pessoas que estão no parque, fazendo uma delas comer terra até morrer, para chamar a atenção de Stephen e mostrar a ele do que é capaz.

Vemos muitos personagens insanos na literatura em geral, mas esse avô de Stephen ultrapassou alguns limites, até porque, seus motivos para ser tão mal não justificam suas atitudes. Gosto de estórias que envolvam magia e personagens místicos, e não foi por isso que critiquei o  livro, pelo contrário, esses elementos enriquecem o enredo, só acho que poderiam ter sido melhor trabalhados pelos autores. O grande problema dessa leitura é que, a certa altura, ela não desenvolve, parece ficar dando voltas durante vários capítulos, sem sair do lugar. Apesar da linguagem simples e do interesse despertado pela maldição de Stephen, houve momentos em que achei que nada ia se resolver e que tudo ficaria para um segundo livro.

No fim das contas, gostei do desfecho da estória, só achei que eles correram um pouco para resolver a situação de Stephen e o avô, e que os personagens passaram rapidamente de adolescentes comuns a adultos envolvidos com o sobrenatural. O livro é bom, apesar de ter lido várias resenhas contrárias. Algumas pessoas podem não simpatizar com Elizabeth, que ao longo da narrativa muda drasticamente de perfil, sendo meiga e compreensiva no início, e se tornando uma pessoa fria e até egoísta em alguns momentos, mas quem pode culpá-la por isso? Ver sua vida sair do tédio direto para o mundo da magia e saber que a sobrevivência da pessoa que ela ama pode depender da evolução de seus poderes não deve ser fácil.

Talvez o maior ponto a favor do livro seja mesmo a escrita de Levithan, que se mantém fluida e sem floreios. Ele conseguiu inserir um personagem divertido nesse drama, para deixar a estória mais leve, que se tornou o preferido para a maioria dos leitores. A parceria com Andrea Cremer parece ter funcionado bem, mas ainda prefiro seus livros solo. Para quem gosta de drama e magia, o livro cai como uma luva, e eu indico a leitura. Mas aviso para se prepararem para os capítulos em que a estória dá uma patinada. Força leitores, essa fase vai passar.

Joana Masen
@joana_masen

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