Possivelmente a primeira coisa que passa pela nossa cabeça quando falamos em cinema são histórias fantásticas, talvez de super-heróis e coisas extraordinárias. Se o assunto for indicados ao Oscar, nossa imaginação fica ainda mais pronta pra falar de grandes produções, roteiros fortes e projetos cheios de ambição. É claro que isso tudo faz parte desse universo, mas pode ser que a gente acabe esquecendo que o cinema também o espaço pra contar histórias comuns, de gente como eu e você. Esse foi o encantamento que senti quando assisti Lady Bird. De que aquela era uma história que misturava algo que gostaria de ter sido com algo que eu também era na minha adolescência.
Esse é um filmes indicado a Melhor Filme no Oscar desse ano, que nos conta a história de Lady Bird, uma adolescente que vive em Sacramento, Califórnia - e que têm uma vontade enorme de conquistar o mundo. Estamos falando daquela fase de descobertas, que a gente não sabe muito bem o que quer da vida e que estamos prontos pra colocar todos os nossos planos em prática, já que dentro da nossa cabeça o mundo está ali só esperando pra ser conquistado, mesmo que isso nos dê um medo danado. O mais lindo da coisa toda, é que esse é filme criado por mulheres, retratando a vida de uma garota. Quantas vezes vimos isso acontecer no cinema? Um longa falando de uma vida comum, sem intrigas, dramas femininos e garotas brigando por causa de garotos, conversando com meninas como nós.
Em muitos momentos eu senti uma identificação enorme com ela, pensando nos meus anos de adolescente. Eu entendia as motivações dela em querer mudar de vida, de querer conhecer o mundo. Das dificuldades financeiras, de não entender o seu lugar e o seu papel na sociedade. De questionar nossas crenças, do desajuste nas relações familiares dessa fase. Das amizades entre meninas e da incógnita entre meninos. Do peso das escolhas por não entender exatamente o que elas significam.
A verdade é que não há um grande plot por trás de Lady Bird e essa é a maior conquista o filme tem a nos oferecer. Eu acho que de alguma forma a gente pensou que não fosse permitido contar as nossas histórias, a menos que houvesse um contexto de dor, sofrimento ou superação. Afinal, é assim que é ser mulher nesse mundo: difícil. Porque até então nós nunca pudemos falar sobre o ordinário, como se a vida por si só já não fosse obstáculo suficiente e complicada pra caramba partindo apenas do básico, mesmo. Quando a gente aprendeu que histórias de mulheres deveriam ser contadas, tudo o que queríamos transmitir era a ideia de que olha, apesar de tudo isso que essa mulher viveu, ela venceu, com o intuito de inspirarmos umas as outras. E sabe, isso é muito importante, de verdade, mas a gente esqueceu todas as histórias merecem ser contadas.
Greta Gerwing, a diretora e roteirista do filme, passou anos trabalhando nessa história enquanto trabalhava em outras produções tão importantes quanto, seja atuando ou colaborando com roteiro e outros projetos por trás das câmeras. Por causa disso, ela consegue nos transmitir algo tão genuíno, tão verdadeiro, tão a gente em alguma fase da nossa vida, que não consigo apontar um momento em que pensei não estar vendo algo real. De certa forma, estamos vendo uma mulher falar sobre a vida dela também, de um ponto de vista que talvez só a gente entenda como é.
Exatamente por isso que é tão incrível ver a produção em categorias importantes no Oscar desse ano - com indicações para Melhor Filme, Roteiro Original, Atriz, Atriz Coadjuvante, Direção - em que Greta é a quinta mulher a ser indicada na categoria desde a primeira edição. Não que seja esperado que o longa vença, mas o reconhecimento da premiação mais importante do cinema é a grande conquista, que abre portas e traz a oportunidade de que histórias como essa continuem a ser contadas. E por tudo isso, Lady Bird era o filme que queria ver no Oscar.
Sandy Quintans
@sandyquintans
Em muitos momentos eu senti uma identificação enorme com ela, pensando nos meus anos de adolescente. Eu entendia as motivações dela em querer mudar de vida, de querer conhecer o mundo. Das dificuldades financeiras, de não entender o seu lugar e o seu papel na sociedade. De questionar nossas crenças, do desajuste nas relações familiares dessa fase. Das amizades entre meninas e da incógnita entre meninos. Do peso das escolhas por não entender exatamente o que elas significam.
A verdade é que não há um grande plot por trás de Lady Bird e essa é a maior conquista o filme tem a nos oferecer. Eu acho que de alguma forma a gente pensou que não fosse permitido contar as nossas histórias, a menos que houvesse um contexto de dor, sofrimento ou superação. Afinal, é assim que é ser mulher nesse mundo: difícil. Porque até então nós nunca pudemos falar sobre o ordinário, como se a vida por si só já não fosse obstáculo suficiente e complicada pra caramba partindo apenas do básico, mesmo. Quando a gente aprendeu que histórias de mulheres deveriam ser contadas, tudo o que queríamos transmitir era a ideia de que olha, apesar de tudo isso que essa mulher viveu, ela venceu, com o intuito de inspirarmos umas as outras. E sabe, isso é muito importante, de verdade, mas a gente esqueceu todas as histórias merecem ser contadas.
Greta Gerwing e Saiorse Ronan (de quem tenho orgulho em saber pronunciar o nome) trabalhando juntas no set |
Greta Gerwing, a diretora e roteirista do filme, passou anos trabalhando nessa história enquanto trabalhava em outras produções tão importantes quanto, seja atuando ou colaborando com roteiro e outros projetos por trás das câmeras. Por causa disso, ela consegue nos transmitir algo tão genuíno, tão verdadeiro, tão a gente em alguma fase da nossa vida, que não consigo apontar um momento em que pensei não estar vendo algo real. De certa forma, estamos vendo uma mulher falar sobre a vida dela também, de um ponto de vista que talvez só a gente entenda como é.
Exatamente por isso que é tão incrível ver a produção em categorias importantes no Oscar desse ano - com indicações para Melhor Filme, Roteiro Original, Atriz, Atriz Coadjuvante, Direção - em que Greta é a quinta mulher a ser indicada na categoria desde a primeira edição. Não que seja esperado que o longa vença, mas o reconhecimento da premiação mais importante do cinema é a grande conquista, que abre portas e traz a oportunidade de que histórias como essa continuem a ser contadas. E por tudo isso, Lady Bird era o filme que queria ver no Oscar.
Sandy Quintans
@sandyquintans
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