domingo, 1 de agosto de 2010

O fim das noites em que Jim Morrison e Pamela Morrison tentavam morrer

 
Algumas pessoas tem medo de morrer. Meu saudoso avô era uma dessas pessoas. Conforme os anos foram avançando, seus olhos cansados buscaram dentro de si intensos fragmentos de suas aventuras quando jovem. Era uma tentativa atemporal de se apegar a tudo aquilo que o fizera feliz até aquele momento. Os amigos, as histórias, as noites de paz, as anedotas que acontecem durante nossa breve trajetória  por esta terra. Ao se aproximar de algo tão misterioso e inevitável, meu avô apenas retraiu sua alma e a deixou voar, livre, como alguém que se joga no oceano sabendo que não é nada perto da imensidão de uma natureza enigmática, selvagem e transgressora.

   Indo na contramão, existem pessoas que procuram a morte. Jim Morrison foi uma dessas pessoas. Procurou a morte em seus filmes, livros, poesias e músicas. Procurou a morte nos braços de quem amava e de quem odiava, e procurou a morte nos palcos, até que a encontrou em uma solitária banheira em um hotel de Paris. Uma garrafa de whisky repousava vazia no chão e um leve sorriso desenhava-se em seu rosto, indicando que a morte real parecia ser tão melhor quanto aquela abstrata, tão procurada em sua obra. Era o fim das noites em que Jim Morrison tentava morrer.

   A London Fog foi um clube noturno que fez parte da efervescente cena psicodélica de Sunset Strip, um parque de diversões para todos os drogados, intelectuais, poetas, prostitutas e artistas vanguardistas da segunda metade da década de 1960. Estamos na cidade da Califórnia, Los Angeles, no ano de 1965. Em uma dessas noites aparentemente escritas pelo destino, Jim Morrison e Pamela Courson se conheceram na London Fog para, juntos, injetarem autodestruição em suas veias. Courson, nascida na cidade de Weed, também na Califórnia, tinha apenas 19 anos quando conheceu Morrison, então com 22 anos. Ela odiava estudar e era conhecida por ser uma pessoa reclusa, de poucos amigos e perdida dentro de seus pensamentos obscuros. Jim Morrison servia como uma ponte para Pamela adentrar um mundo onde alegria e dor misturavam-se de forma desconexa, borrando uma tela de cores ultrajadas e primais. Ficaram juntos por quase seis anos, e tiveram um relacionamento tumultuado.

   Encontrar Jim Morrison morto naquele fatídico dia de 3 de julho de 1971 levou Pamela à loucura. Muito mais do que uma ponte para um mundo de utopias, Courson (ou Morrison, como ela gostava de ouvir) havia perdido o seu maior vilão e o seu maior amor. Acabou isolando-se como antes daquela noite na London Fog, só que desta vez dividindo o aluguel de um pequeno apartamento em Los Angeles com dois amigos. Seus últimos anos de vida basearam-se em longas sessões de heroína, que levaram Pamela a mostrar instabilidade mental. Ela passava os dias comentando com as pessoas sobre a ansiedade de reencontrar o seu grande amor. Assim como Jim Morrison procurou pela morte por ser refém dela, Pamela procurou a morte por ser refém de Jim Morrison. A encontrou, enfim, no dia 25 de abril de 1974, levada daqui por uma fulminante overdose de heroína. Tinha 27 anos de idade, a mesma de seu eterno namorado.

Por Adolfo Ifanger

4 comentários:

  1. Você tá se superando cada vez mais! =)

    Eu acho super interessante a história de amor de Pam e Jim.

    Tenho orgulho de ter os seus textos aqui.

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