quinta-feira, 27 de junho de 2013

Joana Leu: Reparação, de Ian McEwan

Reparação
Ian McEwan
editora Cia. das Letras
444 páginas
"Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episõdio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou."

O autor Ian McEwan consegue fazer de forma impecável uma descrição completa e minusciosa de cada um de seus personagens, além de dar detalhes dos ambientes onde se passa a estória, sem que isso deixe a narrativa monótona ou cansativa, diferente do que acontece em "O senhor dos anéis", por exemplo. Mas o mais interessante desse estilo de Ian é que todo e qualquer detalhe, por menor que pareça, ajudam o leitor a conhecer intimamente cada personagem, e entender suas ações através de seu modo de pensar. Isso permite que o leitor crie afinidade e se identifique com esse ou aquele personagem ao longo da leitura.

Essa habilidade do autor fica clara logo no início do livro, enquanto ele apresenta Briony, a protagonista da estória e a responsável pela série de acontecimentos confusos que mudarão toda a sua vida e das pessoas que a rodeiam: Ian vai nos mostrando a personalidade da menina inocente que sonha em ser escritora, e a sua maneira de ver o mundo, tanto que ele narra a cena da fonte sob a perspectiva dela, mas também descreve depois a mesma cena pelo ponto de vista de Cecília e  Robbie, que protagonizaram aquele momento. Depois de ver a irmã semi-nua entrar na fonte do jardim enquanto o rapaz a observa boquiaberto, Briony tem um acesso de raiva e se sente traída por Cecília, já que nutria um amor quase infantil por Robbie. 

Tentando se vingar do que a irmã lhe fez, Briony se aproveita de uma situação de desespero que ocorre durante o jantar da família: eles estão recebendo os filhos de uma tia de Briony que se separou e está tentando deixar as crianças longe das confusões geradas por isso, e também um amigo do irmão mais velho da menina, que está prosperando muito nos negócios vendendo barras de chocolate para o governo enviar aos soldados que estão servindo o país.

Os primos de Briony saem da mesa e vão para fora da casa, acabam se perdendo na mata que envolve a propriedade e, quando se dão conta disso, todos ficam apavorados e saem à sua procura. Em meio a essa busca Briony encontra a prima num lugar muito escuro e ermo, na companhia de um rapaz, de quem ela mal consegue ver o rosto, e tece uma trama incrível, cheia de drama, fazendo da menina vítima de um ataque. Briony revela à família a cena que presenciou e, tentando ganhar a confiança e a amizade da prima e ao mesmo tempo acabando com o romance entre Cecília e Robbie, ela acusa o rapaz de ser o autor do ataque a prima, e afirma veementemente tê-lo visto sair correndo do local quando ela os surpreendeu. Robbie, filho da empregada, não tem como provar sua inocência e acaba preso, mas promete a Cecília que sempre vai amá-la e ela, em resposta, diz que vai esperá-lo.

Esse é o grande acontecimento que amarra a trama e une, para sempre Briony, Robbie e Cecília numa vida cheia de sofrimentos, arrpendimentos, espera e muita esperança de que tudo possa ser resolvido e perdoado.

Ao final, depois de acompanhar toda a penitência de Briony tentando reparar o erro daquela noite, e a busca incansável de Robbie e Cecília pela felicidade, quando o leitor está envolvido emocionalmente com os personagens, acreditando que sabe quem é o vilão e quem é o mocinho, eis que o autor apresenta um desfecho surpreendente e nos deixa em dúvida sobre tudo o que aconteceu, sem saber se era verdade ou não, ao melhor estilo Machado de Assis em "Dom Casmurro".

Recomendo muito a leitura: a narrativa é simples e fluída, e prende o leitor do início ao fim. O livro foi adaptado para o cinema, então, para aqueles que preferem ver a ler, podem assistir "Desejo e Reparação", que ficou muito bom mas, como acontece na maioria das adaptações, não consegue refletir todos os detalhes da estória.

Joana Masen
@joana_masen

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © 2017 Pronto, usei!