quinta-feira, 25 de julho de 2013

Joana leu: Os espiões, de Luis Fernando Veríssimo

Os espiões
Luis Fernando Veríssimo
editora Alfaguara
144 páginas

"Ainda se curando da ressaca do fim de semana, na manhã de uma terça-feira o funcionário de uma pequena editora recebe um envelope branco, endereçado com letras de mãos trêmulas. Dentro, as primeiras páginas de um livro de confissões escrito por uma certa Ariadne, que promete contar sua história com um amante secreto e depois se suicidar. Atormentado por sonhos românticos, esse boêmio frustrado com seu casamento e infeliz no trabalho decide tomar uma atitude: descobrir quem é Ariadne e, se possível, salvá-la da morte anunciada.
Na mitologia grega, ela ajuda Teseu a sair do labirinto. Luis Fernando Veríssimo cria uma Ariadne ao contrário, que vai enfeitiçando o protagonista e seus amigos de bar, os deliciosos e risíveis espiões deste livro. Linha a linha, como um fio costurando a comédia ao drama cotidiano, Veríssimo constrói a teia de onde seus personagens talvez não escapem - um universo alegórico, diabolicamente engraçado e culto, que também captura o leitor até o final desse enigma."

Veríssimo cria aqui uma trama muito envolvente, e com bastante simplicidade: ele mistura situações do nosso dia a dia com detalhes da mitologia, fatos históricos e culturais, além de inserir no enredo uma pitada de mistério a lá Agatha Christie. Pense naqueles frequentadores assíduos do bar perto da sua casa, que estão lá todos os dias, e que se reúnem para ficar debatendo assuntos sem muita importância. É numa mesa dessas que encontramos os personagens para a história contada por Veríssimo: um editor desiludido com a vida e com o casamento, que de repente recebe um envelope misterioso, contendo o primeiro capítulo de um livro intitulado apenas "Ariadne" (com um coração sobre o "i", como ele gosta de enfatizar). O drama contato ali é cheio de frases de efeito e consegue preder a atenção do editor, que fica desesperado para saber o que vai acontecer depois. 

No texto, a narradora é a própria Ariadne, que revela ter traído seu marido com um anjo dourado, e que a traição fora descoberta, o que levou o marido a tirar a vida de seu amante e passar a mantê-la sob forte vigia. Ariadne dá todos os indícios de que está muito infeliz com a situação e que o final do livro virá juntamente com o fim de sua vida. O editor vai se envolvendo emocionalmente com a autora conforme os capítulos vão chegando às suas mãos, periodicamente, e fica apavorado com a ideia da morte de Ariadne. Para tentar evitar esse fim trágico, ele recruta os amigos de boemia para irem até a cidade da moça descobrir o que está acontecendo de verdade, até que chegue o momento certo para ele mesmo sair ao socorro de Ariadne.

Nessa pseudo-espionagem, muita coisa hilária acontece e, ao longo da narrativa, vamos descobrindo muitas peculiaridades da história contada por Ariadne e que nos guiam até a revelação de algumas verdades: o caso extraconjugal dela realmente existiu? quem era o amante? onde estaria seu irmão desaparecido? e seu suicídio realmente se concretizaria? Esses e outros enigmas só vão ser resolvidos no final, quando o editor ficar cara a cara com a misteriosa escritora.

Repleto de tiradas inteligentes e de humor sutil, o livro é uma leitura agradável, e consegue envolver o leitor na busca de soluções para o drama de Ariadne. Ao mesmo tempo em que está carregado de emoções e dúvidas, o enredo também consegue ter passagens hilárias, mostrando que os personagens, ainda que tentem ser sérios e respeitáveis, têm seus momentos cômicos. 

Joana Masen
@joana_masen

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