quinta-feira, 11 de julho de 2013

Joana leu: Perfeitos, de Scott Westerfeld

Perfeitos
Scott Westerfeld
editora Galera
384 páginas
"Tally finalmente é perfeita. Agora seu rosto está lindo, as roupas são maravilhosas e ela é muito popular. Mas por trás de tanta diversão - festas que nunca terminam, luxo e tecnologia, e muita liberdade - há uma incômoda sensação de que algo importante está errado. Então Tally recebe uma mensagem, vinda de seu passado, que a faz se lembrar de qual é o problema na sua vida perfeita. Agora ela precisará esquecer o que sabe ou lutar para sobreviver - as autoridades não pretendem deixar que alguém espalhe esse tipo de informação."

Então Tally se entregou para os Especiais a fim de se tornar perfeita e ajudar a mãe de David a encontrar a cura para as lesões sofridas no cérebro de quem passa pela cirurgia. O problema é que, depois de realizada a operação, o novo perfeito não se lembra de muita coisa relevante de sua vida de feio. Por isso, antes de voltar à Nova Perfeição, Tally deixou com os enfumaçados uma carta para ela mesma, explicando toda a situação, a fim de se convencer a voltar para a nova Fumaça em busca da cura para as lesões em seu cérebro.

Nesse novo mundo de festas arrasadoras e muita tecnologia a seu dispor, Tally não pensa mais em seu passado, tão pouco lembra de David, o amor deixado para trás. Enquanto frequenta as noitadas com seus novos amigos, os Crims, ela acaba conhecendo Zane, o líder do grupo, e eles rapidamente se identificam e começam a namorar.

Numa noite, Tally recebe a sorrateira visita de Croy, morador da Fumaça, que aparece para lhe lembrar da sua missão: fugir e voltar para a natureza para ser voluntária no processo de cura daquele cérebro perfeito. Aos poucos ela vai relembrando dos momentos que vivera com os enfumaçados e, junto com Zane, que também consegue ter alguma consciência de que a vida de um perfeito não é tão boa quanto eles imaginavam, passa a tentar escapar daquela cidade, que é tão sem sentido quanto as atitudes dos novos Perfeitos.

Claro que, em se tratando da nossa protagonista, nem tudo são flores, e, no meio do seu plano de fuga, algumas coisas começam a dar errado; ela até reencontra a temível Dra. Cable, que quer convencê-la a se tornar uma Especial, dizendo que Tally tem o dom para criar problemas e se livrar deles com criatividade e coragem, e essa sua habilidade poderia ser muito útil no grupo dos especiais.

Shay, a amiga de Tally, também mostra um outro lado nesse livro: ela gosta da vida de Perfeita, mas ainda carrega a mágoa por ter perdido David para a amiga enquanto estavam na Fumaça, e quer participar do processo de cura com Tally. Pensando estar sendo excluída pela amiga, Shay se revolta e forma um novo grupo, chamado de "Cortadores".

Finalmente, quando Tally e Zane conseguem alcançar a nova Fumaça, as coisas não saem exatamente como eles tinham planejado, e ela acaba novamente atraindo os Especiais e estragando mais uma vez a boa convivência com os novos enfumaçados, que têm que fugir rapidamente.

Mais uma vez a mocinha se vê dividida entre a possibilidade de uma nova vida ao lado de David, e uma vida borbulhante com seus amigos Perfeitos. E o seu futuro acaba, novamente, nas mãos da Dra. Cable.

Scot Westerfeld continua aqui com sua crítica à sociedade atual, usando como metáfora o fim da humanidade como conhecemos, e a criação de uma nova organização onde as pessoas são totalmente manipuladas e controladas pelo governo. Ainda podemos perceber a exaltação da beleza, uma obrigação de ser lindo para poder aproveitar os melhores momentos da vida. Mais uma vez eu comparo essa utopia com o nosso mundo atual: já existe essa ditadura da beleza, e todos nós vivemos sob pressão de ser sempre perfeito,  sempre magro, sempre impecável, sempre lindo.

O autor deixa evidente que os Perfeitos nada mais são que uma versão exagerada da maioria dos jovens de hoje: na Nova Perfeição eles não têm mais nenhuma obrigação além de se divertir, beber e participar de festas, enquanto aqui, no mundo real, eles realmente gostariam que tudo isso fosse verdade e que eles pudessem viver exatamente assim, sem pensar em nada, só aproveitando essa fase de suas vidas livremente.

Westerfeld, mais uma vez, deixa no final do livro o gancho para o próximo, assim como já tinha feito em "Feios", e ainda aumenta o sofrimento de Tally com um clássico triângulo amoroso, para apimentar a trama.

O enredo é envolvente, e a narrativa fluída, apesar de ter achado que a certa altura a estória ficou um pouco lenta, mas isso foi totalmente justificado depois: a demora de Tally em sair da aldeia e voltar a procurar a Nova Fumaça daria base para os próximos e decisivos acontecimentos. O uso da expressão "borbulhante" é repetitivo, e me fez lembrar das milhares de vezes em que Ana falou de sua deusa interior em "Cinquenta tons de cinza".

No geral, o livro é bom: o estilo de Scott é interessante e a estória é bem diferente da maioria dos livros que estão em evidência atualmente. Por isso, e por nos fazer imaginar um mundo futurístico onde tudo é pensado para o bem da humanidade, apesar de ser totalmente vigiado e cerceado, a leitura vale a pena. O enredo nos faz refletir sobre como estamos tratando o nosso planeta e a nós mesmos, e se vale a pena abdicar de tudo o que gostamos apenas em nome da beleza.

Joana Masen
@joana_masen

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