quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Joana leu: O nome do vento, de Patrick Rothfuss

O nome do vento

Patrick Rothfuss
editora Sextante
656 páginas
"Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.
Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, "O nome do vento" acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.
Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.
Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade - notório mago esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame. Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança."


Nunca fui fã do gênero fantástico, e quando decidi ler esse livro, ele me pegou de guarda baixa. Comecei a leitura despretensiosamente e me encantei. Fiquei curiosa ao ler na orelha do livro: 'Meu nome é Kvothe, com pronúncia semelhante à de Kuouth. Os nomes são importantes, porque dizem muito sobre as pessoas. Já tive mais nomes do que alguém tem direito a possuir'. É uma frase que merece, no mínimo, um minuto de reflexão. Os nomes são praticamente personagens dessa estória, desde o título, e também são motivadores de algumas das aventuras vividas por Kvothe, que quer a qualquer custo descobrir o nome do vento para poder convocá-lo quando precisar. 

Na narrativa, Kvothe vai contando a história de sua vida a um escriba misterioso, que aparece de repente na pousada Marco do Percurso querendo conhecer aquele que chamam de "O matador de reis": as memórias do dono da pousada começam na infância, quando ainda fazia parte de uma trupe com seus pais, que acabam sendo mortos, sem explicação aparente, por uma entidade conhecida como Chandriano. A partir daí, o menino sai em busca de vingança e passa pelas mais difíceis e arriscadas situações, desde roubar para comer até morar escondido sob o telhado de uma casa qualquer. Ele sabe que só existe um ligar onde ele pode começar a busca pelos assassinos de seus pais, a Universidade, que contém um arquivo com milhares de livros, e que podem conter alguma informação sobre o Chandriano e, talvez, de como derrotá-lo.

Além de estar motivado pela vingança, a Universidade era um antigo sonho de Kvothe, que desde criança sonhava em se tornar um mago. Assim, com algum dinheiro no bolso, e muita malícia, ele é aceito na Universidade e, sendo mais inteligente que os outros alunos, vai avançando rapidamente em seus estudos, mostrando algumas vezes mais habilidades que alunos mais experientes. É muito interessante ver como seu pensamento é rápido e como ele consegue driblar situações difíceis usando sua experiência de vida, alguma retórica e uma boa dose de audácia.

Além dos amigos fiéis que acaba fazendo na Universidade, Kvothe também se dedica bastante à música, que é um dos seus muitos talentos. Claro que a estória também tem romance: o protagonista é apaixonado por Denna, uma mulher misteriosa, que aparece e desaparece sem maiores explicações, deixando Kvothe sempre à sua espera, apesar dele nunca ter se declarado para ela.

Para mim, o aspecto mais fascinante dessa estória é o ambiente criado pelo autor, cheio de magia, simpatias, animais fantásticos, pessoas boas e más, num mundo fictício onde uma semana é uma onzena e um período letivo tem em média 2 meses. Há uma moeda própria, a comida é compatível com os recursos disponíveis na época - que também não é marcada com clareza - e tudo isso forma um cenário propício para as aventuras de Kvothe.

Eu achei "O senhor dos anéis" muito chato e monótono, com descrições muito minimalistas e uma lentidão insuportável, tanto que abandonei a leitura. Aqui em "O nome do vento", esse fator também é determinante, mas o autor o usa de maneira mais dinâmica, o que deixa a leitura infinitamente mais agradável. Mesmo explicando em detalhes cada coisa, ambiente, pessoa e situação, Patrick Rothfuss conseguiu deixar a estória mais "imaginável" - se é que isso existe - e esses pormenores não deixaram a leitura lenta nem tampouco desinteressante.

Mesmo sabendo que a estória não ia se definir no final do livro, pois ele tem continuação, eu queria muito terminar para saber se Kvothe aplicaria sua vingança realmente, ou se ia conquistar Denna... mas o desfecho do livro é realmente surpreendente! Como está escrito na contracapa 'ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo", e tanto um quanto o outro vão se confundindo ao longo da estória, chegando algumas vezes a parecer a mesma pessoa. O personagem Kvothe é tão forte e envolvente que o leitor torce, sofre com ele, sente suas perdas, passa a odiar seus inimigos tanto quanto ele odeia, mas também comemora algumas vitórias.

Minha única certeza depois de ler esse livro é que o autor criou aqui um marco na história do gênero fantástico, pois nada será como antes de conhecer Kvothe e viajar com ele em busca do nome do vento.

Joana Masen
@joana_masen

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