Quem é você, Alasca?
John Green
editora Martins Fontes
229 páginas
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"Miles Halter é um adolescente fissurado por célebres últimas palavras - e está cansado de sua vidinha segura e sem graça em casa. Vai para uma nova escola a procura daquilo que o poeta François Rabelais, quando estava à beira da morte, chamou de o 'Grande Talvez'. Muita coisa o aguarda em Culver Creek, inclusive Alasca Young. Inteligente, engraçada, problemática e extremamente sensual, Alasca levará Miles para o seu labirinto e o catapultará em direção ao Grande Talvez. 'Quem é você, Alasca?' narra de forma brilhante o impacto indelével que uma vida pode ter sobre outra. Este livro marca a chegada de John Green como uma voz importante na ficção contemporânea."
Quando terminei a leitura não sabia o que dizer. Na verdade, um pouco depois da metade do livro, após o ápice da estória, eu parei de ler e fui refletir sobre o que já tinha acontecido e, principalmente, sobre o que ainda poderia estar por vir.
Com um começo meio lento, a narrativa vai se desenvolvendo aos poucos, com acontecimentos que, à primeira vista, parecem não ser muito relevantes, mas todo e qualquer detalhe da estória, por mais ínfimo que seja, será muito importante no final.
Miles foi para o colégio Culver Creek a fim de mudar sua vida e encontrar o seu "Grande Talvez", e assim que chegou conheceu seu colega de quarto, o Coronel, que sempre tentava parecer forte e decidido, mas que no fundo é apenas mais um jovem confuso e carente. Depois, o Coronel o apresenta a Alasca, uma garota super descolada, por quem Miles se apaixona imediatamente, e mais tarde descobre que a menina mescla momentos de uma segurança inabalável com outros de total confusão de sentimentos e afastamento da realidade.
A convivência dos três é permeada por transgressões às rígidas regras do colégio, como beber, fumar ou ficar nos quartos uns dos outros depois do horário permitido, e de momentos descontraídos, quando fazem algumas das coisas que se espera de jovens da sua idade: conversam sobre o futuro, jogam vídeo game e fazem tentativas frustradas de entender o amor.
O sentimento de Miles por Alasca aumenta a cada dia, mas a menina sempre deixa bem claro que tem um namorado, que mora longe, mas que é totalmente fiel a ele. Por isso, ele sabe que só terá dela a amizade.
Miles coleciona últimas palavras de pessoas famosas, e essa é uma das suas características mais marcantes, além de ser um nerd inseguro e sem amigos. Mas aos poucos ele vai encontrando a si mesmo, com os ganhos e as perdas que a amizade do Coronel e de Alasca lhe proporcionam. Na verdade, todos os personagens têm o seu momento de descoberta, quando refletem sobre a própria vida e seus sentimentos mais profundos durante uma brincadeira inocente de perguntas e respostas, e é a partir daí que a estória começa a ficar mais interessante e o leitor passa a entendê-los melhor.
John Green já mostra nesse romance de estreia seu estilo simples de conquistar o leitor, com um personagem que à primeira vista parece sem graça, mas que se revela um grande pensador, uma pessoa capaz de falar sobre nossos maiores medos ou nossas grandes dúvidas existenciais de maneira leve, mas que nos fazem refletir sobre nossa própria realidade. Acho que aqui ele já tinha alguma ideia na cabeça para "A culpa é das estrelas", e já começou a testar nossa capacidade de nos emocionarmos com suas personagens.
Pelo título do livro tive a impressão de que a estória giraria em torno da Alasca, ou seria muito focada no romance entre ela e Miles, mas não: John Green usa a instabilidade dessa personagem para desenvolver os outros, criando uma trama cheia de momentos de reflexão, e que exalta a amizade acima de tudo, a união e a cumplicidade entre Miles e Coronel e o aprendizado que essa convivência lhes proporciona.
O livro tem linguagem simples e a leitura é rápida. Mas preparem-se para fortes emoções e até algumas lágrimas, reações que vêm se tornando típicas nos romances de John.
Joana Masen
@joana_masen
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