O perfume
Patrick Süskind
editora Record
219 páginas
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"França, século XVIII. O recém-nascido Jean-Baptiste Grenouille é abandonado pela mãe junto a restos de peixes em um mercado parisiense. Rejeitado também pela natureza, que lhe negou o direito de exalar o cheiro característico dos seres humanos, pelas amas-de-leite e por instituições religiosas, o menino Grenouille cresce sobrevivendo ao repúdio, a acidentes e doenças. ainda jovem descobre ser dotado de imensa sensibilidade olfativa e parte em busca da essência perfeita, do perfume que lhe falta para seduzir e dominar qualquer pessoa. Nessa busca obsessiva, ele usurpa a essência dos corpos de suas vítimas."
Imagine ter a capacidade de sentir e memorizar todos os cheiros existentes no universo. Isso mesmo, Jean-Baptiste Grenouille nasceu com a incrível capacidade de registrar cada cheiro, de cada mínima coisa (ou pessoa) que conhecesse. Analfabeto, feio, manco, muito pobre e mal sabendo falar, essa sua habilidade foi aos poucos tomando conta de sua vida e fez com que Grenouille ficasse obcecado por conhecer todos os aromas do mundo.
O rapaz sofreu desde o dia de seu nascimento: a mãe, uma vendedora de peixe de uma feira, deu à luz Jean-Baptiste embaixo de sua barraca, largou o recém-nascido no chão, sem ao menos tocá-lo, esperando que ele morresse, como já tinha acontecido antes com seus outros filhos, mas, como vaso ruim não quebra, ele resistiu, e chorou, chamando a atenção das pessoas em volta, que o salvaram. A polícia prendeu a mãe, que foi enforcada mais tarde, e o bebê foi para um orfanato, administrado por um padre.
Esse padre era o responsável por encaminhar as crianças abandonadas para amas-de-leite, que ficariam responsáveis por alimentar e manter os bebês até que pudessem ser adotados por alguém. Estranhamente, a ama que ficou com Grenouille logo voltou para devolvê-lo ao padre, dizendo que o pequeno estava possuído pelo demônio, já que ele não tinha cheiro. O padre achou isso um absurdo, todo mundo tem cheiro, e tratou logo de se livrar dele, mandando-o para um lar onde uma mulher cuidava de diversas crianças abandonadas por um pequeno pagamento.
Jean-Baptiste passa a infância toda ali, até ser negociado com o dono de um curtume, para trabalhar lá. O jovem passa então vários anos fazendo de tudo naquele lugar, e vivendo da pior forma possível: comendo migalhas e dormindo num lugar horrível. Então um dia ele vai fazer uma entrega para um perfumista da cidade e se apaixona pela loja, com seus inúmeros aromas e ingredientes capazes de fabricar o mais fino de todos os perfumes.
Mas Grenouille não era apenas uma pessoa abençoada com essa capacidade de memorizar cheiros, mas também era perturbado mentalmente, e acabou se tornando um assassino, meio que sem querer e sem saber o que estava fazendo, mas um assassino.
Quando ele se depara na rua com um cheiro que ainda não conhecia, ele fica louco para descobrir de onde ele vem, e vai seguindo aquele aroma até encontrar um linda jovem, que ele segue até conseguir alcançá-la numa rua e atacá-la, mas apenas com o intuito de sentir seu cheiro até gravá-lo na memória. Infelizmente, até inocentemente, ele a sufoca e ela morre.
A partir daí, o único objetivo de Grenouille é criar o perfume perfeito, o mesmo que ele sentiu naquela garota, e para isso ele não poupa nenhum esforço: passa a trabalhar para o perfumista como aprendiz, mas vira as noites desenvolvendo misturas que possam se aproximar daquele cheiro que ele se recorda como o melhor do mundo.
Na verdade, Grenouille é um doente: ele nunca teve uma vida normal, portanto, não se apega aos valores morais que todos nós seguimos. Algumas vezes o autor descreve um sofrimento por parte do protagonista, mas não é por conta de seus atos, nem devido as dificuldades que ele sempre teve que enfrentar, mas apenas e tão somente por ele não conseguir criar o perfume que ele tanto almejava.
Ao longo das suas tentativas, ele decide ir colhendo de diversas jovens o seu perfume natural, e para isso, ele desenvolve uma técnica de assassinato que não deixa nenhum vestígio, e que lhe permite 'colher' a essência natural de cada uma, recolhendo o aroma de sua pele e seus cabelos. Ele mata muitas garotas, e deixa uma cidade em pânico, com sua população acreditando estar sendo vítima de um serial killer inescrupuloso.
Claro que Jean-Baptiste é um assassino, e acaba se tornando uma matador em série, mas ele não tem o desejo de matar, nunca teve; ele quer só recolher o cheiro das garotas e assim criar aquele perfume que ele imagina ser perfeito e único.
Há alguns detalhes da estória que mostram que Grenouille é bastante inocente na maioria das situações, e em alguns momentos é possível até sentir pena dele, mas, como acontece com todo assassino, ele precisa pagar pelos crimes que cometeu, e é nesse desfecho que somos surpreendidos pela imaginação do autor: o final do livro é interessante, empolgante e diferente.
Duas observações finais: o livro foi adaptado para filme, que também é muito bom e não perde em nada para o original e o autor deve ser um maluco para conseguir imaginar uma estória como essa. Enquanto lia, isso ficou rondando minha cabeça e, como criadora de estórias, fiquei imaginando como ele teve a ideia de enredo, como construiu o personagem e deu a ele essa habilidade ímpar de memorizar cheiros. Tudo no livro é muito impactante, mas mesmo assim é uma leitura prazerosa. Tentar entender como funciona a mente do assassino e conhecer a sua perspectiva das coisas é muito interessante, e é uma forma diferente de analisar se um criminoso é culpado ou não por seus atos.
Enfim, o livro é ótimo, leiam. Se quiserem, assistam o filme, que, como eu disse, é tão bom quanto o livro, e mostra todos os momentos importantes da trama, sem deixar nada para trás.
Joana Masen
@joana_masen
Joana Masen
@joana_masen
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