quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Joana leu: Os desejos da Bela Adormecida, de Anne Rice

"Os desejos da Bela Adormecida"
Anne Rice
editora Rocco
349 páginas
"Sob o pseudônimo de A. N. Roquelaure, Anne Rice reimagina a história de Bela e expõe toda a subjetividade deste conto que povoa a imaginação coletiva, explorando sua ligação inegável ao desejo sexual. Aqui, o príncipe desperta Bela não com um beijo, mas com a iniciação sexual. Sua recompensa para acabar com os cem anos de encantamento é a escravidão total e completa de Bela a seu prazer. A heroína é levada para o castelo do príncipe, onde terá de se submeter a provações inimagináveis como prova da sua entrega e dedicação."

Minha relação com esse livro foi difícil, desde as primeiras páginas, pois não gostei do rumo que autora estava dando à trama, e foi complicado escrever a resenha.

Todo mundo comentando sobre um livro hot escrito pela criadora das melhores estórias de vampiro de todos os tempos, e eu achando que ia ser uma coisa mais na linha de "Toda Sua"... ledo engano. Não sei por quê cargas d'água Anne Rice decidiu escrever essa estória, mas acho que ela deveria ter continuado a falar sobre um tema que ela já dominava.

Já no início do livro, um príncipe lindo e maravilhoso, como todos os príncipes de contos de fadas, decide que vai entrar no castelo onde estão muitas pessoas adormecidas, todas atingidas pelo mesmo feitiço que condenou Bela a dormir por 100 anos, e todo o blá blá blá que já conhecemos da estória original da Bela Adormecida. Então, ele entra no castelo e encontra o quarto da princesa que furou o dedo no fuso, a vê deitada na cama, dormindo passivamente e acha que seria legal fazer sexo com ela! E se não fosse estranho o bastante o príncipe curtir uma necrofilia, eis que Bela acorda repentinamente durante o ato e não reclama, não faz um escândalo, não grita nem morde aquele cara estranho que está em cima dela! E o pior, ela gosta!

Esse príncipe tarado-necrófilo-maluco diz a Bela que a partir daquele momento ela seria sua escrava particular e que não deveria mais usar roupas nem discutir suas ordens, já que ele fez o favor de livrá-la da maldição tão delicadamente. Os demais moradores do castelo que estavam dormindo também acordam, e o príncipe explica para o pai de Bela que vai levá-la para seu reino para ser sua escrava como pagamento por ele ter quebrado o feitiço que os mantinha dormindo, e ele aceita.
A partir daí, Bela sofre todo tipo de humilhação imaginável, desde a exposição pública de seu corpo nu até ser espancada por uma jovem que nunca tinha visto antes para simples deleite do príncipe. O costume de seu reino é manter os príncipes e princesas de reinos vizinhos como escravos sexuais, sob a alegação de que isso vai educá-los para a vida e para exercer suas futuras obrigações. Considerando que é uma estória erótica, isso é aceitável, mas a forma como esses escravos vão sendo tratados ao longo da narrativa foi um pouco exagerada para mim.

Estando nos domínios de seu "dono", Bela é espancada o tempo todo, com palmatórias e chicotes, é obrigada a andar sempre de quatro, despir, banhar e vestir seu príncipe, pentear seus cabelos, lhe servir vinho e comida - tudo isso usando a boca, já que não pode usar as mãos - e ainda lhe satisfazer sexualmente quando ele achar que deve. Isso foge totalmente do que considero uma estória sensual ou erótica, e que fala sobre sexo, sobre práticas sexuais não tão comuns à maioria das pessoas: aqui, o que se destaca é a humilhação do ser humano, o sofrimento infligido aos escravos que os obriga a viver em condições piores que os animais, com o intuito de que esse tratamento seja disciplinador. Se a princesa Bela passou anos dormindo, ela realmente precisaria ser disciplinada? Aparentemente, ela nem teve tempo de ser rebelde ou mal educada.

Já achei terrível imaginar uma pessoa sendo obrigada a andar sem roupa por todos os lugares, sendo exibida como um pedaço de carne, mas ficou ainda pior quando Bela começou a gostar daquela vida, sentir necessidade de ser espancada (e estou falando aqui de muitos golpes de palmatória, pelo corpo todo, sem pena, e não das surras que Christian dava em Ana em "Cinquenta tons de cinza") para agradar seu príncipe, tudo isso para dar vazão ao seu próprio desejo sexual, que não sabia como controlar.

Dentre os castigos e punições a que eram submetidos os escravos estavam uma corrida, como se fossem cavalos, com um tipo de arreio para que seu condutor os controlasse enquanto o acertava sem parar com um chicote, e uma sessão de tortura com correntes, onde eles eram pendurados com o sexo à mostra, braços e pernas presos e bocas amordaçadas. Em outras ocasiões eles eram abusados sexualmente, como quando um deles foi estuprado por um cavalariço e foi obrigado a fazer sexo oral em inúmeros homens seguidamente, engolindo o esperma de todos ele sem pestanejar. E aí eu me pergunto: o que há de sensual nisso???

Para apimentar a trama, Bela acaba se apaixonando pelo servo particular da rainha, o príncipe Alexi, que foi um escravo rebelde durante muito tempo, até se acostumar com o tratamento que recebia e se convencer de que deveria agradar a rainha e satisfazer todos os seus desejos, ainda que isso significasse apanhar constantemente.

O livro termina sem concluir a estória, deixando-a em aberto e com uma outra situação começando a se desenvolver, quando Bela foge de seu príncipe e é transferida para um lugar que eles chamam de 'vila', onde, aparentemente, os castigos são ainda piores que os aplicados no castelo. Como o livro faz parte de uma trilogia, acredito que a estória de Bela e Alexi vai crescer nos próximos volumes.

Apesar de gostar de Anne Rice e de seu estilo de escrita, não consegui gostar desse livro em momento algum, mas também não o abandonei antes do final, por que não sou de fazer isso e queria ver até onde iria todo aquele absurdo. Não recomendo o livro para pessoas que, como eu, acham que esse tipo de prática sexual descrito por Rice é exagerado e não tem nada de erótico. Mas se a curiosidade for maior que a repulsa, vá em frente, leia e depois volte para me contar o que acho.

Joana Masen
@joana_masen

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