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"A mulher só"
Harold Robbins
editora Círculo do Livro
459 páginas
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"JeriLee Randall tem o grande sonho de vir a ser uma escritora
famosa. Está, no entanto, convencida que para consegui-lo terá de deixar
o marido e a sua família. decidida a lutar para alcançar os seus
objetivos, dá início a uma vida dividida entre o jet-set de Hollywood e
New York. Porém, nesta sua nova vida, o sexo, as bebidas e as drogas
estão sempre presentes e fazem-na sentir-se cada vez mais sozinha. Com o
tempo, acaba pro perceber que a fama pode facilmente esfumar-se e os
amigos podem desaparecer precisamente quando ela mais precisa."
Li esse livro quando eu tinha uns 11 ou 12 anos, não sei dizer como ele chegou até mim, mas me apaixonei pela estória, apesar da pouca idade. Depois disso, reli várias vezes, até que um dia ele sumiu da minha vida, da mesma forma como apareceu, mas eu nunca me esqueci dos detalhes da narrativa. Então, no ano passado resolvi procurá-lo e comprei um exemplar bem surrado e amarelado, exatamente como era o meu, inclusive com a mesma capa. O legal dessa releitura foi analisar a estória com um olhar mais experiente e perceber que, apesar de ter se passado tanto tempo, ela ainda me era familiar, pois, inconscientemente, eu sempre me lembrei de frases, personagens e situações do livro.
A
protagonista é JeriLee Randall, que desde garotinha sonhava
em ser escritora. Ela perdeu o pai muito cedo, e a mãe se casou com um
banqueiro, que passou a ser a figura paterna para JeriLee e seu irmão.
Ela tinha uma relação ótima com padrasto, ao contrário da mãe, com quem
não conseguia manter um diálogo aberto. Essa falta de entendimento com a
mãe lhe trazia grandes frustrações, principalmente na adolescência,
quando ela não se sentia à vontade para compartilhar seus sentimentos,
desejos e dúvidas com a mulher que deveria estar ao seu lado nesses
momentos.
Ainda adolescente, JeriLee conhece um homem que se interessa por uma estória
escrita por ela. Ele também é escritor e lhe dá alguns conselhos sobre a
profissão. Então os dois ficam muito amigos e ela passa a se encontrar
com ele regularmente para debaterem literatura.
Enquanto
isso, ela vai descobrindo a sexualidade e o poder que tem sobre alguns
garotos da cidade. Ela é extremamente sensual, mas, por mais que queira,
não consegue se acertar com nenhum dos meninos, e, algumas vezes, acaba
se envolvendo em confusões por causa disso, já que eles se aproveitam
da confiança que ela deposita neles para tentar transar com ela.
JeriLee
trabalha no clube da cidade durante as férias escolares e, numa noite
tranquila, um dos garotos que estavam sempre por lá, se oferece para
levá-la para casa. Ela aceita a carona mas acaba sendo levada para a
casa dele, onde estão mais alguns meninos e meninas, já bêbados, fazendo
uma festinha na piscina. Os meninos querem sexo, mas ela se recusa a
fazer o que eles querem, e, por isso, acaba sendo violentada: eles batem
nela, a queimam com um cigarro, rasgam suas roupas e tentam
estuprá-la. A coisa só não fica pior por que um amigo de JeriLee que a
viu saindo do clube com o rapaz, chega e a salva.
A
partir daí, a vida dela e da família fica muito difícil pois, morando
numa cidade muito pequena e cheia de pudores, ela fica mal falada e os
familiares são apontados nas ruas. Ela vai ficando cada vez mais
deprimida, afastada de tudo e com vergonha de encarar as pessoas, se culpando pelo que tinha acontecido. Então, como que para se salvar e fugir de tudo isso, ela se casa com o amigo escritor, que é bem mais velho que
ela, e se muda para New York, acreditando que isso também será o primeiro passo para sua carreira de escritora deslanchar.
Sua
vida fica realmente muito conturbada na nova cidade: ela continua
escrevendo, e apenas uma de suas peças fez sucesso, mas só por ela
ser esposa de um escritor famoso. JeriLee também tentou trabalhar como
atriz, mas não conseguiu muito êxito. Quando ela se separa do marido,
tudo começa a desmoronar.
JeriLee
tenta sobreviver sem a ajuda financeira do ex-marido, mas não vende nenhuma
estória e não consegue mais trabalho como atriz. Vai se envolvendo cada
vez mais com os homens errados, que só a fazem sofrer, e nunca se sente
realmente feliz. Ela começa a abusar de bebida e de remédios, além de, em alguns
momentos, o autor fazer uma leve insinuação sobre o uso de drogas.
Os
homens com quem ela se relaciona nunca a compreendem, então ela acaba
se envolvendo com uma mulher; elas ficam juntas por algum tempo e
JeriLee pensa que vai melhorar sua situação, já que a namorada é pessoa
influente no meio artístico, mas a relação acaba se desgastando e elas também se separam.
Tudo
vai dando errado e, num certo momento do livro, ela muda de nome e
passa a ser Jane Randolph, uma dançarina erótica que trabalha nas piores
boates de New York para tentar se manter. Os vícios, a essa altura,
estão cada vez piores, e ela chega ao fundo do poço, perdendo a casa, o
emprego e a dignidade. Esse alter-ego criado por ela acaba dominando sua vida e ela já nem se lembra de quem era e de como agia quando ainda era JeriLee.
JeriLee
sempre buscou a felicidade a qualquer preço; queria ser uma escritora
reconhecida e uma mulher amada e satisfeita, mas nunca conseguiu
alcançar seus objetivos, vivendo durante muito tempo numa tristeza
profunda e totalmente sozinha. Mesmo quando ela tinha alguém, ela se
sentia só, desamparada e perdida, e nunca foi plenamente feliz. Até que,
no pior momento de sua vida, um homem misterioso a ajudou e a tirou das ruas.
Depois disso... bem, depois disso não posso revelar o que acontece, ou
estaria estaria contando o final da estória.
O
livro é bom, tem forte apelo sexual - se considerarmos a época em que
foi escrito - e mostra um pouco como as mulheres foram, durante muito
tempo, desvalorizadas profissionalmente e vistas apenas como esposas,
mães ou prostitutas.
O
autor Harold Robbins tem muitos best-sellers nos Estados Unidos, e,
nesse livro, fez uma crítica forte à sociedade da época, que levava mais
em conta a aparência e a fama do que as qualidades de cada pessoa,
principalmente, das mulheres. O romance pode ser perturbador em alguns
momentos, mas é bem realista, e muito bem escrito. Para quem gosta desse
tipo de literatura, recomendo. Para quem não gosta ou ainda não leu
nada desse gênero, aconselho que comece a ler a série "Júlia", aquela
que é vendida em bancas de jornal, para ir se acostumando com o estilo romance/tragédia.
Joana Masen
@joana_masen