"Bom de briga"
Markus Zusak
editora Bertrand Brasil
208 páginas
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"Na continuação de 'O azarão', Markus Zusak apresenta o emocionante 'Bom de briga': se no primeiro título o autor traz um romance de formação de um jovem incorrigível, infeliz consigo mesmo e com sua vida, agora ele exibe dois irmãos em busca de um propósito na vida. O livro retrata a evolução dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe como seres humanos. No primeiro livro, a dupla estava sempre atrás de algo errado para fazer. Dessa vez eles entram no mundo das lutas amadoras de boxe, buscando independência para suas vidas. Enquanto Ruben mostra um talento nato para a coisa, Cam tenta apenas sobreviver; desde cedo, apanha e se levanta, mostrando que o que importa não é a força da pancada, mas se você tem a força necessária para se reerguer."
Esse é o segundo livro da trilogia dos Irmãos Wolfe, onde podemos perceber um crescente amadurecimento dos dois personagens principais, Cameron e Ruben. Se no primeiro volume eles eram só moleques que procuravam algo com o que passar o tempo, aqui eles já começam a ver as coisas de uma forma quase adulta: eles vão sentindo cada vez mais os problemas da família, como as dificuldades financeiras, a falta de uma convivência de qualidade e os grandes momentos de silêncio à mesa, e se distanciando cada vez mais daquilo que os divertia há algum tempo atrás.
O foco principal aqui é a transição entre infância e vida adulta, e Zusak o descreve de forma tão natural que é quase imperceptível durante a narrativa, até o momento em que, em meio a leitura, você para e pensa: é, acho que os meninos cresceram.
Além das dificuldades em se relacionar com o sexo feminino, Cameron ainda sente uma necessidade muito grande de encontrar seu lugar no mundo, de descobrir quem é e que tipo de pessoa será no futuro. Seu maior medo é se tornar um perdedor, alguém que aceita as barreiras que encontra pelo caminho sem ao menos tentar transpo-las. Ele acredita que, por ser um membro da família Wolfe, tem que ser um batalhador e nunca se deixar abater com as dificuldades, pois seu pai é assim.
De outro lado acompanhamos a mudança de Ruben, o irmão mais velho de Cameron e seu grande companheiro. Ele, diferentemente de Cam, tem uma visão menos romântica do mundo, apesar de também carregar consigo essa máxima de que os Wolfe nunca se deixam abater. Ruben acredita e apoia o irmão caçula, à sua maneira, muitas vezes quase sem demonstrar qualquer carinho por ele, mas sempre ficando ao seu lado.
Os dois meninos se envolvem num campeonato de luta amador, e têm que enfrentar adversários violentos e implacáveis, além de uma plateia exigente, que quer ver briga e sangue. A cada luta, o vencedor ganha um bom prêmio em dinheiro, e o perdedor fica apenas com a gorjeta dada pelos espectadores. Ruben luta com muita facilidade, como se tivesse nascido para aquilo, e nunca perde uma disputa sequer, já Cameron, em sua primeira vez no ringue, é quase massacrado pelo oponente.
Durante as lutas é que percebemos mais o crescimento pessoal dos personagens e a sutileza da escrita de Zusak, ele é capaz de descrever uma batalha sangrenta, que deixa Cameron quase em coma de maneira tão delicada que o leitor não fica em momento algum assustando ou com medo de que algo ruim (ou pior) lhe aconteça. Mais uma vez preciso mencionar que o escritor constrói seus parágrafos de maneira quase poética, e isso deixa o clima mais ameno. Ele usa essa mesma habilidade para inserir pequenas metáforas na narrativa que remetem àquele amadurecimento que eu citei logo no começo da resenha, deixando bem claro que os meninos estão se tornando adultos e se adequando a sua nova realidade.
Claro que as dúvidas amorosas continuam, e elas se apresentam de duas formas diferentes: enquanto Ruben fica com qualquer menina que se aproxime dele após as lutas, e depois as abandone como se não significassem nada, Cameron continua procurando uma garota para se dedicar, entregar seu coração e viver um amor de verdade. Ele não entende como o irmão consegue se manter tão distante de tudo isso, e continuar com relacionamentos tão superficiais.
Os conflitos familiares ainda estão presentes nesse livro, só que ficam um pouco mais para segundo plano. Grande parte da narrativa se concentra em mostrar ao leitor como é complicado deixar de ser criança, e ter que entrar na vida adulta ainda carregando alguns medos e inseguranças daquela fase. Aos poucos, o próprio Ruben vai mostrando para Cameron que a mudança faz parte da natureza humana, e que, apesar de ser difícil, eles vão conseguir crescer juntos. E o que os meninos acreditam que será muito ruim para a família, acaba os unindo ainda mais.
Cameron e Ruben só querem sobreviver, e para isso, caem e se levantam, sempre, apanham e batem, e aprendem que não é a força do soco que vale, mas sim, se você tem o que é necessário para aguentar as pancadas que recebe. Mais uma vez, Markus Zusak conquista com personagens fortes, complexos e muito reais, e com sua delicadeza para contar uma estória. Ele entretém, diverte e faz pensar, tão naturalmente, que o leitor nem percebe que está refletindo sobre si mesmo enquanto lê.
Joana Masen
@joana_masen
Esse é o segundo livro da trilogia dos Irmãos Wolfe, onde podemos perceber um crescente amadurecimento dos dois personagens principais, Cameron e Ruben. Se no primeiro volume eles eram só moleques que procuravam algo com o que passar o tempo, aqui eles já começam a ver as coisas de uma forma quase adulta: eles vão sentindo cada vez mais os problemas da família, como as dificuldades financeiras, a falta de uma convivência de qualidade e os grandes momentos de silêncio à mesa, e se distanciando cada vez mais daquilo que os divertia há algum tempo atrás.
O foco principal aqui é a transição entre infância e vida adulta, e Zusak o descreve de forma tão natural que é quase imperceptível durante a narrativa, até o momento em que, em meio a leitura, você para e pensa: é, acho que os meninos cresceram.
Além das dificuldades em se relacionar com o sexo feminino, Cameron ainda sente uma necessidade muito grande de encontrar seu lugar no mundo, de descobrir quem é e que tipo de pessoa será no futuro. Seu maior medo é se tornar um perdedor, alguém que aceita as barreiras que encontra pelo caminho sem ao menos tentar transpo-las. Ele acredita que, por ser um membro da família Wolfe, tem que ser um batalhador e nunca se deixar abater com as dificuldades, pois seu pai é assim.
De outro lado acompanhamos a mudança de Ruben, o irmão mais velho de Cameron e seu grande companheiro. Ele, diferentemente de Cam, tem uma visão menos romântica do mundo, apesar de também carregar consigo essa máxima de que os Wolfe nunca se deixam abater. Ruben acredita e apoia o irmão caçula, à sua maneira, muitas vezes quase sem demonstrar qualquer carinho por ele, mas sempre ficando ao seu lado.
Os dois meninos se envolvem num campeonato de luta amador, e têm que enfrentar adversários violentos e implacáveis, além de uma plateia exigente, que quer ver briga e sangue. A cada luta, o vencedor ganha um bom prêmio em dinheiro, e o perdedor fica apenas com a gorjeta dada pelos espectadores. Ruben luta com muita facilidade, como se tivesse nascido para aquilo, e nunca perde uma disputa sequer, já Cameron, em sua primeira vez no ringue, é quase massacrado pelo oponente.
Durante as lutas é que percebemos mais o crescimento pessoal dos personagens e a sutileza da escrita de Zusak, ele é capaz de descrever uma batalha sangrenta, que deixa Cameron quase em coma de maneira tão delicada que o leitor não fica em momento algum assustando ou com medo de que algo ruim (ou pior) lhe aconteça. Mais uma vez preciso mencionar que o escritor constrói seus parágrafos de maneira quase poética, e isso deixa o clima mais ameno. Ele usa essa mesma habilidade para inserir pequenas metáforas na narrativa que remetem àquele amadurecimento que eu citei logo no começo da resenha, deixando bem claro que os meninos estão se tornando adultos e se adequando a sua nova realidade.
Claro que as dúvidas amorosas continuam, e elas se apresentam de duas formas diferentes: enquanto Ruben fica com qualquer menina que se aproxime dele após as lutas, e depois as abandone como se não significassem nada, Cameron continua procurando uma garota para se dedicar, entregar seu coração e viver um amor de verdade. Ele não entende como o irmão consegue se manter tão distante de tudo isso, e continuar com relacionamentos tão superficiais.
Os conflitos familiares ainda estão presentes nesse livro, só que ficam um pouco mais para segundo plano. Grande parte da narrativa se concentra em mostrar ao leitor como é complicado deixar de ser criança, e ter que entrar na vida adulta ainda carregando alguns medos e inseguranças daquela fase. Aos poucos, o próprio Ruben vai mostrando para Cameron que a mudança faz parte da natureza humana, e que, apesar de ser difícil, eles vão conseguir crescer juntos. E o que os meninos acreditam que será muito ruim para a família, acaba os unindo ainda mais.
Cameron e Ruben só querem sobreviver, e para isso, caem e se levantam, sempre, apanham e batem, e aprendem que não é a força do soco que vale, mas sim, se você tem o que é necessário para aguentar as pancadas que recebe. Mais uma vez, Markus Zusak conquista com personagens fortes, complexos e muito reais, e com sua delicadeza para contar uma estória. Ele entretém, diverte e faz pensar, tão naturalmente, que o leitor nem percebe que está refletindo sobre si mesmo enquanto lê.
Joana Masen
@joana_masen
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