quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Joana leu: A garota que eu quero, de Markus Zusak

"A garota que eu quero"
Markus Zusak
editora Intrínseca
176 páginas
"Cameron Wolfe tem fome. Cansou-se de ser um maldito perdedor, deplorável, meio risonho e meio carrancudo, sempre tentando impressionar. Ele finalmente conheceu uma garota, e seu espírito foi inundado por palavras. Agora, Cameron está determinado a provar que não há nada mais belo que um perdedor disposto a lutar."

É difícil falar sobre um livro que não gostamos, mas é ainda mais complicado falar sobre outro que amamos. E esse é o caso de "A garota que eu quero". Desde que comecei a ler a trilogia dos irmãos Wolfe, já imaginava que ia gostar mais do último volume, mas ele conseguiu me impressionar além do esperado.

Nesta última parte da estória de Cameron e Ruben já encontramos os irmãos bem mais maduros, apesar de, em certos momentos, quando ainda tendem a agir com certa inconsequência. O mais velho, Ruben, troca de namorada como quem troca de roupa, e só quer curtir, sem pensar em se apegar realmente a nenhuma delas. E Cameron continua sendo Cameron, um tanto quanto inseguro e muito solitário.

O livro é cheio de reflexões de Cam sobre sua vida e seus anseios, uma marca do autor, que encaixam perfeitamente na narrativa: o menino que cresceu idolatrando os pais e os irmãos, só queria se encontrar, descobrir qual é a sua razão de viver, e ter alguém para amar, uma garota a quem se dedicar de corpo e alma. Aliás Zusak usa muito a palavra alma nesse livro, dando profundidade ao personagem.

Quando Cam é surpreendido por uma menina, que toma a iniciativa de convidá-lo para sair, ele consegue começar a fazer tudo aquilo que sonhava em fazer quando tivesse alguém: ele a trata com respeito e devota todo o seu coração a ela, tanto que a própria menina se surpreende, por nunca ter sido tratada daquela maneira. É lindo ver o tamanho do sentimento de Cameron pela namorada, e como ela vai mudando aos poucos aquele jeitão solitário dele. Ao invés de caminhar a esmo pela cidade e quase nunca dizer o que pensa, ele passa a maioria de seu tempo livre com ela, e aprende a expressar seus sentimentos.

A relação dele com os irmão também amadurece um pouco, e ele agora além de admirá-los, também ganha a admiração de Steve, Ruben e Sarah. A harmonia da família fica bem evidente, e eles protagonizam cenas engraçadas, que poderiam muito bem acontecer em qualquer família.

Os momentos de tensão ficam por conta de um ex-namorado da atual menina com quem Ruben está ficando, que começa a fazer ameças a ele pelo telefone, e promete que ainda vai pegá-lo em algum lugar e dar uma surra em Ruben. Essa é uma situação que fortalece ainda mais a amizade entre ele e Cam, e mostra que a família está acima de qualquer coisa para eles.

Em paralelo ao amadurecimento dos meninos vem o envelhecimento de Miffy, o cachorro do vizinho que os meninos quase mataram no primeiro livro, e que se tornou um personagem importante na estória. Apesar de se sentirem envergonhados por serem obrigados a passear com Miffy todas as noites, eles acabam se afeiçoando ao bichinho, e sofrem quando percebem que sua ausência poderá fazer muita falta.

Os capítulos são intercalados por narrativas de sonhos de Cameron, onde podemos ver com mais clareza como ele se sente em relação às coisas, com os sonhos sendo metáforas dos acontecimentos reais de sua vida. E uma característica marcante do autor é se referir a uma sensação ou sentimento, algo abstrato, como se fosse possível tocar, ver ou materializar: "... suas palavras me alcançaram, agarraram meu espírito pelo coração e o surrupiaram do corpo." 

O livro todo é cheio de momentos românticos entre Cam e a namorada, e é impossível não torcer para que tudo dê certo para eles. O menino é muito doce, e realmente se dedica a fazer a menina feliz, como sempre imaginou que faria. As frases que um diz para o outro são bem singelas, mas carregadas de significado, e em alguns momentos, emocionam o leitor. Num dos meus quotes preferidos vemos a delicadeza do autor ao descrever o sentimento de Cameron:

"Amo aquela garota", tenho vontade de dizer, mas não digo. Sei que o cachorro está aqui para me guiar e mais nada.
Ficamos parados ali, e sei que sei muito pouco.
Não sei aonde vão dar essas ruas, e nem por quê.
Não sei se consigo resistir à luta desta noite.
Só há uma coisa que eu sei.
É sobre a garota, e é isto:
Se um dia sua alma vazar, quero que caia em mim."

Sentirei falta da família Wolfe, e da escrita poética de Markus Zusak, que não me canso de elogiar. O livro é perfeito, e super recomendo para quem quer ler um romance sincero e realista.

Joana Masen
@joana_masen

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