sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

As Sufragistas

Há alguns meses descobri que seria lançado um filme sobre as sufragistas e fiquei doida pra ver, mas não foi tão fácil assim pra assistir. Foi quase uma jornada, e pasmem, é complicado até encontrar textos na internet. Na hora que vi o trailer, pensei o quanto seria mágico ver Hollywood discutindo direitos das mulheres, ainda que olhando para o passado. Sem que contar que o elenco conta com Meryl Streep, Carey Mulligan e Helena Bonham Carter. O problema foi que na data de estreia - bem depois de diversos países -, o filme não estava passando em nenhum lugar. Até consegui assistir, mas foi preciso certa força de vontade, porque nós ganhamos vozes, mas não para sermos ouvidas.


Sim, o filme valeu o esforço para assisti-lo. É algo tão poderoso ver a luta destas mulheres, que me permitiu poder votar em uma época que estávamos ali só para trabalhar, sem reconhecimento. Não foi fácil. E gostaria de ver mais e mais pessoas assistindo tudo aquilo, de ver mulheres mudando o curso da história. Mas aparentemente não é de interesse dos grandes cinemas.


O filme é ambientado entre 1912 e 1913, que foi quando o movimento sufragista ganhou notoriedade, mesmo que ele já existia há um tempão, liderado pela Emmeline Pankhurst - personagem de Meryl Streep. Depois de muitas mulheres lutarem pelo direito de voto, foi nesta época específica em que começaram a usar forma de protestos mais agressivos. A mídia não se comovia com a sua luta e para o resto da população o movimento era uma vergonha.


É aí que entra a história da Maud Watts (interpretado pela Carey), que é uma personagem fictícia, mas que existe para representar todas as operárias e mulheres de classe mais baixas. Infelizmente, quase não há documentos e informações precisas sobre a época, por ser tratado como algo obscuro. Maud trabalha em uma lavandeira desde a infância, é casada, tem um filho e nenhum estudo ou condição financeira. Logo, ela acaba percebendo que pra ela, o preço para entrar e encarar esta luta vai ser bem mais caro, pois não têm apoio algum - mesmo sabendo que é um direito imprescindível,


O filme foi criticado por só trazer personagens brancas e por não ter representatividade. Nas campanhas para promover os filmes, as atrizes traziam camisetas com os dizeres "I'd rather be a rebel, than a slave" (Prefiro ser rebelde a ser escrava), o que pegou bem mal pro filme. Afinal,  ninguém escolhe ser escravo, né? Mas, realmente esta frase fazia parte de uns discursos da Emmeline Pankhurst e foi colocado de forma infeliz na campanha, pois perdeu o contexto original.


Talvez por causa de todas essas polêmicas é o que o filme tenha sido deixado de lado dos grandes circuitos. Eu vi uma campanha gigantesca feita para o filme, mas na hora de assistir, quase ninguém conseguia. Independente, dos problemas, é um roteiro poderoso, que discute privilégios e que coloca o dedo na ferida. Não é segredo que a vida sempre foi mais difícil para mulheres, por isso mesmo que muito do que é discutido no início do século XX, continua valendo até hoje.


Apesar de alguns problemas de roteiro, os detalhes da produção, as atuações incríveis e a mensagem que ele carrega fazem o filme valer a pena. E eu realmente espero que mais pessoas possam ouvir estas vozes. Eu sofri com elas, porque sei que uma parte delas mora em mim. Nós somos estas mulheres até hoje.


Sandy Quintans
@sandyquintans

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