segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Documentários do Oscar - Amy Winehouse e Nina Simone

Quando um filme mexe com a gente, ficamos pensando naquilo por muito tempo. Foi exatamente assim que me senti quando vi o documentário da Amy Winehouse, no ano passado. Aquilo não me saia da cabeça por semanas. Pensar em tudo que ela passou me fazia sofrer. Insatisfeita com essa história, também aproveitei pra assistir o documentário sobre a Nina Simone, no Netflix. Sabe, fiquei ainda mais pensativa, e mais uma vez, não conseguia deixar de ficar martelando a vida dessas mulheres. Não entendo. Daí essa semana, aconteceu que os dois documentários foram indicados ao Oscar. Parece que não foi só comigo que essas histórias mexeram, não é?


Eu resolvi que iria escrever um texto só para os dois filmes, mesmo que tivesse material pra escrever muitos individualmente. A questão é que a história dessas duas mulheres, geniais, se assemelham em muitas partes. As duas viviam diversos problemas, mesmo que diferentes. Eram artistas ovacionadas pelo grande público, mas por dentro elas eram sofrimento sem fim. Sempre admirei essas duas cantoras e quando parava pra escutar sempre me vinha um "uau!", mas eu não fui o que pode se chama de fã.


A Amy era uma menina que sempre teve problemas psicológicos, claramente ela sofria de depressão desde o início da adolescência. No documentário, os pais e os amigos comentam que ela já tomava antidepressivos com 12 e 13 anos. Inclusive, os pais dela contam que Amy contou ter desenvolvido uma dieta, em que ela podia comer o que quisesse e depois vomitava. Era a fórmula mágica que nós conhecemos como bulimia, mas parece que eles não ligaram muito pra história.


Nina Simone sonhava em ser uma pianista clássica, desde criança. E ela era muito boa naquilo. A música era a vida dela. Por isso, depois de estudar muito, ela conseguiu tocar em um botequim qualquer na hora do almoço. Até que alguém pediu pra ela que cantasse também, e não pode recusar, precisava ganhar a vida. Suas composições foram ganhando espaço e sua qualidade musical começou a ser reconhecida, mesmo que aquilo que estava fora do grande sonho dela de ser pianista.


Amy nunca sonhou com a fama, pelo contrário, ela tinha muito medo de ser famosa. Mas como cantora de Jazz, ela não achava que isso poderia acontecer. Ela acompanhava e se inspirava em todos os grandes cantores de jazz, a forma como compunham, como cantavam. Não achava que podia ganhar a vida assim, ela era muito insegura, mesmo tendo um talento impressionante. Quando aconteceu, ela não teve estrutura psicológica pra estourar no mundo, pra enfrentar a implacável imprensa britânica e pra ter as suas músicas tocadas em cada canto do planeta.


Quando a fama veio pra Nina Simone, ela conheceu o amor da vida dela, que mais tarde tornou-se seu empresário - o mesmo de quem apanhou em todos os anos que esteve casada. Foi assim que descobriu a depressão, que colocou nas suas composições, nos seus shows, nas suas cartas. Ela não se aguentava. E ninguém estava disposto a compreendê-la. Era muito mais fácil dizer o que ela deveria fazer.


Amy procurava nos homens a lacuna que seu pai tinha deixado na vida. Ela não se sentia amada. Se entregava de cabeça em cada relacionamento que vivia. Até que encontrou Blake, alguém que não estava disposto a vê-la bem. Ela se afundou por ele e foi por causa de disso que conseguiu compor o álbum Back to Black. Cada música ali traz um pouquinho de cada sofrimento dela por ele. Só depois que a fama encontrou Amy, que se pai voltou pra vida dela -, mas não da forma que ela sempre quis.


Quando Nina Simone se envolveu com a luta de Martin Luther King, ela acabou perdendo muito espaço. As pessoas diziam que ela era radical demais, que devia voltar para as canções que a consagraram. Mas nada, depois da música, fazia tanto sentido pra ela quanto a luta pelos seus direitos e de seus irmãos. Ela viveu o racismo nos Estados Unidos por anos, sem entender porque era tratada de forma diferente dos seus amigos brancos, até descobrir a causa.

Essas duas almas encontraram a fama em meio aos seus sofrimentos. Cantar era tudo que mais amavam, mas era algo que vinha junto com uma rotina cansativa, cheia de cobranças, com os holofotes. Também foram duas mulheres que tiveram grande parte de suas dores causadas por causa de seus parceiros - se é que se pode chamar assim. Você entende o reportório delas quando conhece a história e tudo fica dolorido. Eu ainda não digeri como o mundo pode ser tão cruel com quem é tão talentoso.


What Happened, Miss Simone? e Amy são obras primas, que merecem suas indicações, mas principalmente, que precisam ser vistos. Os dois trazem um material muito rico sobre as vidas delsa e aos poucos trazem cada pedacinho do sofrimento destas mulheres, incompreendidas.

Sandy Quintans
@sandyquintans

Update: O documentário da Amy estará disponível no Netflix a partir de 1º de fevereiro. Até então, só havia sido lançado nos cinemas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © 2017 Pronto, usei!