As histórias de psicopatas me fascinam e sempre me pergunto como pode existir pessoas que não sentem como os outros. Assisti "Precisamos falar sobre Kevin" esperando entender um caso - fictício - de um destes garotos Columbine e me deparei com uma história muito mais complexa e interessante do que um caso de massacre (que já seria o suficiente para prender minha atenção).
Quando assisti ao filme, que traz o brilhante Ezra Miller e a maravilhosa Tilda Swinton, fiquei completamente impressionada com a forma como a narrativa é conduzida. O ponto crucial desta história está justamente por ter como foco os impactos que ações de Kevin na vida de sua mãe, a armênica Eva. Por este ponto curioso da vida de um sociopata é que fui levada até o livro de Lionel Shriver. Este é um dos melhores livros que já li na vida e garanto que o título não é pra menos. É profundamente bem escrito e faz o filme, que já é muito bom, parecer um simples conto, quando na realidade é algo bem complexo.
Eva é uma mulher extremamente bem sucedida financeiramente, é fundadora de uma empresa de guia de viagens e se casa com o homem da sua vida. Tudo é perfeito até o momento que se sente pressionada - pela sociedade e por sua idade - a engravidar. No livro, fica claro que a maternidade nunca foi um sonho de Eva e sua vida desmorona no mesmo instante em que Kevin nasce. A vida de Kevin é provoca-la e aos poucos tem sua vida destruída, por um filho que ela não desejou.
Simone de Beauvoir já nos ensinava que a vida é muito mais dura com as mulheres, e de fato é. O que quer dizer que as consequências do massacre são piores para ela do que ao próprio Kevin, que é tratado como herói entre os delinquentes. E o mais importante: a sociedade a culpa como responsável pelos atos de seu filho. Pra mim, a coisa mais triste na história é que ela sofre tudo sozinha. Desde o nascimento de Kevin, Eva sabia da inteligência e capacidade de persuasão dele, além de ter certeza de que tudo o que ele aprontava era para atingi-la. Enquanto seu marido não desconfiava de nada, não importava o quanto ela o alertasse e explicasse, ela sempre terminava cada episódio como culpada ou lunática.
Os atores foram escolhidos de forma brilhante para seus respectivos papéis e até agora não consegui imaginar escolha melhor. O foco entre o livro e a adaptação é que são diferentes. O livro gira completamente em torno dos sentimentos de Eva, suas escolhas e sua vontade de encontrar seus erros. Já o filme, apesar de também se tratar da história dela, dá muito mais ênfase ao Kevin (o que não poderia ser diferente, quando se tem um Ezra Miller como o Kevin).
Comecei tentando entender uma história de sociopatia e terminei em uma história com narrativa feminista. Eva é uma personagem extremamente forte e com características que não estamos acostumadas a ver em muitas mocinhas por aí. Ponto forte que, talvez, a adaptação não tenha conseguido captar devidamente.
Sandy Quintans
@sandyquintans
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Sandy, esse foi mais um comentário brilhante que vc fez sobre um filme incrível! Não li o livro, mas pelo filme dá pra ter uma noção da profundidade da narrativa, e acredito que ele realmente seja perturbador. Fiquei dias refletindo sobre a estória depois que assisti, e em como as pessoas culpavam a mãe pelos atos absurdos do filho. As cenas são fortes e em alguns momentos eu fiquei com medo do que Kevin seria capaz de fazer contra sua mãe, dada a suas atitudes frias e sem sentimento algum. Ainda não consigo entender se ele era só mal ou se tinha alguma perturbação mental que o levava a cometer tantas atrocidades. E se ser mãe é padecer no paraíso, esquecerem de avisar a Eva, coitada, que padeceu foi no inferno mesmo com um filho tão cruel.
ResponderExcluirBjos!
Joana, fico muito feliz que tenha gostado. Acho realmente que esse é um livro interessante e iria gostar de ver o seu comentário depois de ler. Vale a pena com toda certeza analisar de perto um fato como esse. :)
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