Espíritos de gelo Raphael Draccon editora Leya 176 páginas |
"Um homem acorda acorrentado, com os braços para cima, em uma sala escura, com dois torturadores vestidos com detalhes masoquistas ao lado e um interrogador baixinho, vestido com roupas sociais e uma camisa surrada do Black Sabbath. Eles o informam que ele acordou em uma banheira sem um rim e sofreu um choque amnésico, que o impede de lembrar os detalhes. Assim sendo, eles partem do princípio de que outros choques traumáticos podem desbloquear essas memórias, se necessários. E se iniciam as piores partes. O livro faz referências à lenda urbana da banheira de gelo, às lendas ao redor da história do rock'n'roll e até às motivações e psicologia ao redor da criação das lendas urbanas."
Esse foi o primeiro livro do Draccon que li e já me encantei! A escrita dele é moderna e a leitura flui muito bem.
Sem nenhuma explicação, um homem acorda num lugar estranho, amarrado, e com três pessoas que ele nunca viu, uma lhe fazendo perguntas e as outras duas lhe espancando a cada resposta que eles julgam incompleta ou irônica. O torturador quer que ele conte o desfecho de uma história da qual ele não consegue se lembrar, e usa as mais diversas formar de causar dor, dizendo que isso o ajudará a recordar tudo o que aconteceu. Eles estão numa sala escura, quente, abafada, fedida e com chão úmido, que me lembrou bastante o quarto de torturas do livro "1984".
"Lá dentro daquela sala se escutavam gritos que vinham de fora e, por mais longe que as outras salas estivessem, pareciam vir de dentro; porque pareciam vir de nós mesmos."
Aos poucos o método realmente vai fazendo efeito e o homem preso começa a narrar sua história desde que conheceu uma linda mulher chamada Mariana Slaviero até o momento em que foi encontrado numa banheira cheia de gelo com apenas um rim. Não é spoiler dizer que o protagonista se lembra de como acabou naquela situação, já que a história narrada por ele é muito mais intrincada do que podemos imaginar.
Nosso protagonista se envolve com Mariana e descobre que a moça faz parte de um tipo de seita, para onde ela quer levá-lo também: o grupo de participantes, guiados por um guru esquisito, se encontra no templo em busca de prazer sexual profundo, além do normal alcançado pelas pessoas. Ali praticam sexo transcendental e esperam atingir um nível de satisfação quase espiritual. Quase todo o foco da trama está nas atividades desse grupo, e é ali que acontece o fato principal que leva o protagonista a perder um rim e não se lembrar de como aconteceu.
É interessante a forma como o autor conduz a narrativa, usando como linha temporal os lugares onde cada fato aconteceu (cativeiro, mansão, motel, ponte etc), deixando implícito para o leitor quando a cena está acontecendo no tempo presente e quando o narrador está contando algo do passado.
Além disso, o livro é muito atual, cheio de citações de filmes, livros e, principalmente, bandas de rock contemporâneas; diferente de outros autores, Raphael Draccon fala claramente sobre essas referências, e não as usa de forma metafórica, exigindo que o leitor as decifre pelo contexto da estória. Ele cita Neil Gaiman, Irmãos Grimm, O Senhor do Anéis, Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Rolling Stones, Black Sabbath, Rain Man, Beatles, Sr. Miyaghi e até Edward Cullen, e essas referências não ficam forçadas. Elas se encaixam no enredo de forma natural e, muitas vezes, dão um toque descontraído à narrativa.
Alguns dos diálogos entre o protagonista e seu torturador são muito interessantes, quando eles debatem de forma divertida temas sérios e profundos, e isso contribui para que a leitura seja dinâmica e prazerosa.
O final do livro é muito bacana: além de fechar a estória com acontecimentos totalmente plausíveis, o autor ainda disserta sobre lendas urbanas e a forma como elas se espalham. E também dá para tirar uma lição do desfecho da trama.
Draccon conseguiu me convencer com sua escrita atual e sua forma inteligente de contar uma boa estória. Em alguns momentos seu estilo me lembrou um pouco o de Tony Bellotto, e isso me fez gostar ainda mais da leitura. O ponto forte da narrativa com certeza são as referências, mas a estória como um todo é muito boa, e é totalmente possível terminar a leitura em apenas um ou dois dias, já que o enredo prende a atenção do leitor, que fica, a cada capítulo, esperando descobrir como se resolve o mistério que nem o próprio protagonista consegue lembrar.
Joana Masen
@joana_masen
Esse foi o primeiro livro do Draccon que li e já me encantei! A escrita dele é moderna e a leitura flui muito bem.
Sem nenhuma explicação, um homem acorda num lugar estranho, amarrado, e com três pessoas que ele nunca viu, uma lhe fazendo perguntas e as outras duas lhe espancando a cada resposta que eles julgam incompleta ou irônica. O torturador quer que ele conte o desfecho de uma história da qual ele não consegue se lembrar, e usa as mais diversas formar de causar dor, dizendo que isso o ajudará a recordar tudo o que aconteceu. Eles estão numa sala escura, quente, abafada, fedida e com chão úmido, que me lembrou bastante o quarto de torturas do livro "1984".
"Lá dentro daquela sala se escutavam gritos que vinham de fora e, por mais longe que as outras salas estivessem, pareciam vir de dentro; porque pareciam vir de nós mesmos."
Aos poucos o método realmente vai fazendo efeito e o homem preso começa a narrar sua história desde que conheceu uma linda mulher chamada Mariana Slaviero até o momento em que foi encontrado numa banheira cheia de gelo com apenas um rim. Não é spoiler dizer que o protagonista se lembra de como acabou naquela situação, já que a história narrada por ele é muito mais intrincada do que podemos imaginar.
Nosso protagonista se envolve com Mariana e descobre que a moça faz parte de um tipo de seita, para onde ela quer levá-lo também: o grupo de participantes, guiados por um guru esquisito, se encontra no templo em busca de prazer sexual profundo, além do normal alcançado pelas pessoas. Ali praticam sexo transcendental e esperam atingir um nível de satisfação quase espiritual. Quase todo o foco da trama está nas atividades desse grupo, e é ali que acontece o fato principal que leva o protagonista a perder um rim e não se lembrar de como aconteceu.
É interessante a forma como o autor conduz a narrativa, usando como linha temporal os lugares onde cada fato aconteceu (cativeiro, mansão, motel, ponte etc), deixando implícito para o leitor quando a cena está acontecendo no tempo presente e quando o narrador está contando algo do passado.
Além disso, o livro é muito atual, cheio de citações de filmes, livros e, principalmente, bandas de rock contemporâneas; diferente de outros autores, Raphael Draccon fala claramente sobre essas referências, e não as usa de forma metafórica, exigindo que o leitor as decifre pelo contexto da estória. Ele cita Neil Gaiman, Irmãos Grimm, O Senhor do Anéis, Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Rolling Stones, Black Sabbath, Rain Man, Beatles, Sr. Miyaghi e até Edward Cullen, e essas referências não ficam forçadas. Elas se encaixam no enredo de forma natural e, muitas vezes, dão um toque descontraído à narrativa.
Alguns dos diálogos entre o protagonista e seu torturador são muito interessantes, quando eles debatem de forma divertida temas sérios e profundos, e isso contribui para que a leitura seja dinâmica e prazerosa.
O final do livro é muito bacana: além de fechar a estória com acontecimentos totalmente plausíveis, o autor ainda disserta sobre lendas urbanas e a forma como elas se espalham. E também dá para tirar uma lição do desfecho da trama.
Draccon conseguiu me convencer com sua escrita atual e sua forma inteligente de contar uma boa estória. Em alguns momentos seu estilo me lembrou um pouco o de Tony Bellotto, e isso me fez gostar ainda mais da leitura. O ponto forte da narrativa com certeza são as referências, mas a estória como um todo é muito boa, e é totalmente possível terminar a leitura em apenas um ou dois dias, já que o enredo prende a atenção do leitor, que fica, a cada capítulo, esperando descobrir como se resolve o mistério que nem o próprio protagonista consegue lembrar.
Joana Masen
@joana_masen
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