Lançamento: The Runaways (The Runaways, 2010)

Quem diria que esse dia iria chegar...

   ...Ver Dakota Fanning fumando, cheirando cocaína, tendo overdoses, desmaiando pelos cantos, beijando mulheres, perdendo a virgindade dentro de banheiros sujos, fazendo ensaio sensual para revistas e, ainda por cima, sendo vocalista da banda punk feminina que mexeu com a indústria fonográfica nos anos 70! E não achem vocês que eu fiquei horrorizado, pois eu adorei essa nova Dakota Fanning, cada vez mais está afastada daquela criança doce de "Uma Lição de Amor" (I Am Sam, 2001) para mostrar um talento sem limites. Como grande fã dessa menina, eu bato o martelo e digo: "The Runaways" é seu melhor filme até aqui. Pode não ser o que apresenta sua melhor atuação, mas marca uma transição completa em sua carreira. O que ela irá fazer daqui pra frente é outra história, mas com certeza não terá mais sentido protagonizar infanto-juvenis como "O Menino e o Porquinho" (2006). Lógico, não é de hoje que a atriz americana vem se despedindo de sua infância. Quem viu à cena de estupro de "Hounddog" (2007), e aos dramas barra-pesada "A Vida Secreta das Abelhas" (2008) e "O Efeito da Fúria" (2009) sabe que não estou blefando. Ao mesmo tempo, Dakota procura sempre fazer um trabalho e outro para não deixar esquecer que é uma adolescente de 16 anos absolutamente como outra qualquer. Para isso, "Heróis" (2008) e as duas últimas sequências da saga "Crepúsculo" estão no seu currículo.

   No outro canto, ainda fazendo um link com a saga "Crepúsculo", temos Kristen Stewart. Eu não cheguei a ver nenhum dos três filmes e não foi por birra: é que até agora não chamou minha atenção. Eu li um monte de gente metendo o pau nela e botando seu talento em cheque. A julgar por este trabalho, ela está de parabéns por interpretar Joan Jett. Em cada cena, dá para notar que Stewart se doou ao personagem, incorporou a autora de "Bad Reputation" como se fosse a própria e ninguém mais.



Gritos de rebeldia

   O The Runaways (foto ao lado) foi uma banda que, ao lado de Ramones, Sex Pistols, Buzzcocks e The Clash, ajudou a popularizar o punk rock espalhando-o mundo afora. Ao seu favor, tinha o charme único de ser formado só por garotas adolescentes - contrariando o lance do rock n' roll não ser para meninas - e pelas suas letras emblemáticas. Boa parte de suas músicas falava sobre como é bom ser biscate, se drogar, pegar nuns pintos e ser feliz fazendo putaria com quem quer que fosse. Soava milhões de vezes mais sujo e impactante do que um Johnny Rotten (Sex Pistols) da vida resmungando sobre a Inglaterra.

   Muito da ideologia e dos elementos originais do punk rock se perdeu com os anos. Hoje tem gente que chama CPM 22 de punk e isso é realmente nojento. Surgido no meio dos anos 70, teve suas raízes já  no fim da década de 60, quando o rock psicodélico passou a torrar a paciência de uma molecada mais interessada em criticar o governo e fazer um som despretensioso. O garage rock foi o embrião do punk, tendo o The Stooges de Iggy Pop um nome muito importante. Em 1969, com o lançamento do LP de estréia dos Stooges, parecia claro nascer um novo gênero e as pessoas não pareciam preparadas para aquilo. Na virada dos anos 60-70, surgiu o proto-punk e, na metade dos anos 70, o punk rock explodiu mesclando moda, comportamento, rebeldia, juventude e música. Foi um movimento cultural completo, que perfurou tudo o que estava em alta na mídia (disco music, hard rock, heavy metal e rock progressivo) para mostrar aos acomodados que o rock também poderia servir novamente como uma arma contra tudo o que estava de errado no "sistema".

Assista ao trailer original de "The Runaways"



   O punk original teve vida curta. Em 1980 a new wave tornava-se popular e a imprensa aparecia com o rótulo "pós-punk". Também, não era para menos: em 1978, o Sex Pistols terminou. Em 1979, Sid Vicious morreu de overdose e o The Runaways quebrou. E em 1981, o Buzzcocks anunciou seu fim. Da turma do fundão, apenas os Ramones continuaram ativos.

Adolescentes Raivosas

   "The Runaways" é o primeiro longa metragem do canadense Floria Sigismondi, famoso por dirigir uma penca de clipes bacanas. Dentre seu trabalho, destacam-se "The Beautiful People" (Marilyn Manson), In My Secret Life" (Leonard Cohen), "Obstacle 1" (Interpol), "Blue Orchild" (The White Stripes), além de muitos outros. Sigismondi é também diretor de comerciais para a TV como Adidas, MAC e Old Navy. O filme narra a meteórica trajetória da banda desde o ano de sua formação, em 1975, até a traumática dissolução em 1979. Foram só quatro anos e 4 discos de estúdio lançados, mas foi o suficiente para mexer com o rock dos anos 70 e ecoar até no Japão, país em que o The Runaways teve sua maior popularidade.

   A despeito de ser uma cinebiografia de uma banda, Flora aponta seus olhos para Joan Jett (Kristen Stewart) e Cherrie Currie (Dakota Fanning), cuja amizade iniciada em uma noite dentro de um inferninho punk ganha proporções gigantescas. Juntas, as duas explodem com o Runaways, experimentam o céu e o inferno da fama e até engatam uma noite de romance. A cena de beijo entre as duas é simplesmente maravilhosa. As demais integrantes do quinteto são representadas por Stella Maeve (Sandy West), Scout Taylor-Compton (Lita Ford) e Aia Shawkat, que encarna a fictícia Robin. Ninguém saber ao certo por a baixista verdadeira Jackie Fox não foi interpretada. Devemos o lado cômico ao excelente Michael Shannon, cuja interpretação como o neurótico produtor musical Kim Fowley é de chorar de rir.

   A trilha sonora vem recheada por clássicos dos anos 70, como David Bowie (influência confessa para Cherrie), Sex Pistols, MC5, Suzi Quatro e The Stooges. Dakota Fanning surpreende numa releitura vomitada para "Cherry Bomb", além de dividir vocais com Kristen Stewart em "Queens of Noise" e "Dead End Justice", todas originais das Runaways.Aparecem no total 34 músicas durante o filme, mas apenas 14 entraram para a trilha sonora oficial em CD.

NOTA: Ótimo
(Classificação: Ruim, Regular, Bom, Ótimo e Clássico)

Por Adolfo Ifanger
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