quarta-feira, 7 de julho de 2010

20 Anos sem Cazuza


 No dia 7 de julho de 1990, morria um dos maiores poetas do rock brasileiro: Cazuza, em decorrência de um choque séptico causado pela aids, doença que contraiu cinco anos antes. Dono de uma personalidade polêmica, Cazuza marcou a geração da década de 80 com sua poesia de concreto, submersa por um romantismo torto e longe das convulsões causadas pela dançante new wave da Blitz, Gang 90 e outros grupos cômicos de então. Dentre suas maiores influências, estavam o blues de Janis Joplin, a MPB de Caetano Veloso e o samba de Adoniran Barbosa. Ingredientes dispersos entre si que criaram o universo de Cazuza e sua voz pausada, rasgada e muitas vezes gritada.

   Sua carreira teve início como vocalista e letrista do Barão Vermelho (foto ao lado), cujo primeiro álbum de estúdio foi lançado em 1982, sendo um dos primeiros clássicos da nova geração do rock nacional. De gravação tosca, repleto de guitarras altas e músicas chapadas como "Billy Negão", o Barão Vermelho ganhou destaque por estar a frente dos demais grupos da época. No ano seguinte, "Pro Dia Nascer Feliz" estourou para se tornar um dos maiores hinos da década, que já contava também com Ultraje à Rigor, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Lobão e Lulu Santos completando o prolífero movimento musical. Em 1984, foi lançado "Maior Abandonado", tido como a obra-prima do Barão Vermelho até os dias de hoje. Regado a blues, rock de garagem e baladas viscerais, Cazuza mostra condições de ser o grande porta-voz de sua geração em momentos brilhantes como "Bete Balanço", "Suporte Baby" e a faixa-título. Não muito longe do Rio de Janeiro, mais precisamente em São Paulo, os Titãs estreavam em disco.

   Com o sucesso da banda crescendo dia após dia, surge a vontade de Cazuza em seguir carreira solo. Ele queria misturar rock com samba sem barreiras, mas o Barão Vermelho de Frejat pedia para seguir numa linha contrária. Em janeiro de 1985, ocorreu o histórico show da banda no primeiro Rock In Rio, onde Cazuza, enrolado na bandeira do Brasil, cantou "Pro Dia Nascer Feliz" enquanto o país vibrava com a volta da democracia. Era o fim da Ditadura Militar e o início de uma nova era. Ainda em 1985, Cazuza decidiu sair do Barão Vermelho e para isso teve que brigar com amigos, empresários e destruir um Disco de Ouro para mostrar seu descontentamento. No mesmo ano, o país via surgir Legião Urbana, RPM e Plebe Rude.

Assista ao clipe de "Ideologia", de Cazuza:


   No fim de 1985, estreou no "Fantástico" o clipe para a primeira música solo de Cazuza, "Exagerado". O sucesso foi estrondoso, abrindo para o cantor carioca todo um novo leque de experimentos sonoros, do jeito que queria. Seus álbuns solos - "Exagerado" (1985), "Só Se For a Dois" (1987) e "Ideologia" (1988) - somaram uma singela coleção de pequenas obras-primas do pop brasileiro. Já diagnosticado com aids e buscando tratamento nos Estados Unidos, o drama de Cazuza ganhou as ruas e virou um nojento reality show imposto pela mídia, que mostrava o cantor definhando diante das câmeras e lentes, cada vez mais fraco, distante e abatido. "Ideologia", a música, é um lúcido retrato de alguém que sabe que irá morrer em breve. Mas nenhuma canção sua carrega o poder de "O Tempo Não Pára", gravada ao vivo durante um show realizado pela Rede Globo em 1989. Mal parando em pé, Cazuza se despede de seus fãs, familiares e amigos cheio de raiva, sonhos e, ainda assim, cheio de esperança.

Por Adolfo Ifanger
www.viagemacores.com

4 comentários:

  1. cazuza era um gênio e deixou um legado incrível para essa nova geração.

    parabéns pelo site e pelo ótimo texto.

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  2. Andrea,
    Muito obrigado pelo comentário :)

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  3. Cazuza foi simplismente incrivel e sem duvida um exemplo de coragem e determinação!

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